Painel de informações de decolagem de voos mostra o voo cancelado em Frankfurt, Alemanha, em 12 de março de 2020. (Alex Kraus/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 16 de março de 2020 às 17h13.
Última atualização em 16 de março de 2020 às 17h44.
Entre Mark McGowan e a Itália, o epicentro da pandemia de coronavírus na Europa, há 1.600 quilômetros de distância e um oceano. Mas o impacto pode estar ao lado.
O hotel de 16 quartos de McGowan, o Scholars Townhouse, em Drogheda, norte de Dublin, registra queda de 60% na receita de quartos. O mercado corporativo “simplesmente evaporou da noite para o dia”, disse.
“Temos três pessoas na recepção, e o que me impressionou foi o silêncio. Você não ouve mais os teclados”, disse McGowan, de 37 anos. “Não tem boa pinta para o verão.”
A pandemia atinge em cheio o setor de serviços da zona do euro, que responde por 75% da economia e cuja capacidade de recuperação foi crucial para compensar a retração das fábricas no ano passado. A pandemia obriga companhias aéreas a cancelar voos e governos a fechar escolas e impor bloqueios nacionais, por isso, a primeira recessão desde 2013 parece quase inevitável.
Embora a Itália seja a mais atingida pelo vírus, com 25.000 casos, a crise se espalha rapidamente pelas maiores economias da região. A França fechou comércios não essenciais, e a Espanha declarou emergência nacional. A Alemanha ainda não impôs bloqueio nacional, mas pode ser apenas questão de tempo. Na segunda-feira, o governo alemão disse que já não espera recuperação da economia no primeiro trimestre, devido ao impacto do vírus nos serviços e na demanda por exportações.
Além de escolas, bares e restaurantes fechados, torneios esportivos também foram suspensos. O governo da Irlanda cancelou eventos públicos para o Dia de São Patrício, feriado nacional em 17 de março, um evento que gera milhões de euros para a economia.
Economistas reduziram as previsões para a zona do euro e muitos acreditam que a recessão seja o resultado mais provável no primeiro semestre, mesmo com as promessas dos governos de gastar bilhões para apoiar empresas e famílias.
Uma recuperação depende dos esforços para conter o surto, mas não se sabe a rapidez com que os bloqueios retardarão a propagação do vírus. A Comissão Europeia diz que a economia poderá encolher 1% neste ano.
“Queremos garantir que possamos preservar nossas empresas, manter empregos o máximo possível, para evitar danos mais duradouros à economia”, disse o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, em entrevista à Bloomberg na sexta-feira.
No início deste ano, economistas esperavam uma relativa estabilidade no setor de serviços para ajudar a manter a modesta expansão da zona do euro. A expectativa era que o segmento continuasse sendo um contrapeso durante a lenta recuperação do setor de manufatura.
Enquanto governos anunciam medidas cada vez mais drásticas para impedir a propagação do vírus, executivos de empresas da região esperam que as medidas, embora rigorosas, funcionem.
Margarida Almeida, presidente da Amazing Evolution Management, de Portugal, tenta permanecer otimista, mesmo depois de alguns cancelamentos de grupos nos 20 hotéis que administra.
“Acho que é uma situação temporária”, disse. “Quero acreditar nisso.”
(Com colaboração de João Lima, Sotiris Nikas, Harumi Ichikura, Henrique Almeida, Zoe Schneeweiss e Iain Rogers).