Bandeira do Chipre: o problema é que o setor financeiro do país é cinco vezes o tamanho da economia cipriota e seus bancos estavam muito expostos (em dívida e empréstimos) à Grécia (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2013 às 19h12.
A Europa deve conceder um resgate ao Chipre na próxima sexta-feira, após o Conselho Europeu, que estará dedicado a buscar medidas para reativar o crescimento, diante das crescentes críticas contra a austeridade estimulada por Bruxelas a pedido da Alemanha
"Na sexta-feira às 17H00 (13H00 de Brasília) haverá uma reunião extraordinária do Eurogrupo sobre o Chipre", anunciou o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.
Uma fonte europeia, que pediu anonimato, afirmou que a ideia é concluir a reunião do Eurogrupo com um acordo. Apesar de admitir que a tarefa não "deve ser fácil".
O Chipre pediu em junho a seus sócios europeus um resgate financeiro de 17 bilhões de euros, depois de seus dois principais bancos solicitarem ajuda ao governo. Desse total, 10 bilhões seriam destinados ao setor financeiro.
O Eurogrupo concordou em tomar uma decisão sobre o Chipre no final de março, depois do novo governo cipriota do conservador Nicos Anastasiadis concordar com "uma avaliação independente" sobre seu setor financeiro, suspeito de ser utilizado pela máfia russa para lavagem de dinheiro.
A pedido da troika, a ilha adotou uma série de medidas de ajuste para reduzir seus gastos.
A primeira vista custa imaginar por que tanta resistência a resgatar um país que representa apenas 0,2% do PIB da zona euro. A ajuda financeira solicitada é mínima se comparada às ajudas que outros países do bloco receberam.
O problema é que o setor financeiro do Chipre é cinco vezes o tamanho da economia cipriota e seus bancos estavam muito expostos (em dívida e empréstimos) à Grécia.
Por mais que o resgate do Chipre seja pequeno, terá um gigantesco impacto em sua dívida pública.
Isso é algo que o Fundo Monetário Internacional (FMI) (um dos três principais credores desse país) não pode - segundo seu regulamento- nem está disposto a aceitar.
O Eurogrupo avalia reduzir o resgate do Chipre a 10 bilhões de euros. Dessa forma a dívida do país cairia a 100% de seu PIB em 2020, como o FMI pede.
O resgate financeiro também é um problema considerando que a maioria dos bancos cipriotas são financiados por depósitos, em sua maioria, de clientes russos, o que levanta preocupações em vários países da zona do euro.
Contudo, se o Chipre não receber ajuda, ficará na ruína. A economia cipriota se contraiu 1,1% no último trimestre de 2012 e o ministério de Finanças desse país espera uma contração de 3,5% para 2013.
O resgate deste país será planejado na reunião de quinta e sexta-feira em Bruxelas, dedicada a analisar medidas para reativar o crescimento.
Segundo as conclusões divulgadas pelo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, a UE insistirá mesmas receitas, ou seja, no caminho das reformas estruturais, mas tentará buscar fórmulas para fomentar o emprego.
A situação é cada vez mais catastrófica e as economias de alguns países estão asfixiadas por tantos meses de austeridade.
É o caso da Espanha que conseguiu reduzir seu déficit a 6,7% do PIB em 2012 de 9,4% em 2011, o que não fez mais que acentuar a recessão. O PIB do país caiu um 1,4% em 2012 e o desemprego disparou a mais de 26%.
Na Itália, o PIB se contraiu 0,9% no quarto trimestre do 2012, o que obscureceu ainda mais os prognósticos para esse país que atravessa uma forte incerteza política, após os resultados das eleições legislativas de fevereiro.
A atividade também caiu em Portugal no último trimestre de 2012, segundo dados que confirmaram a pior recessão desde 1975 e na Grécia, onde as autoridades anunciaram que o PIB caiu 5,7% no quarto trimestre de 2012.
Na segunda-feira o ministro espanhol das Relações Exteriores e Cooperação, José Manuel García-Margallo, alertou que a "austeridade excessiva não contribuirá para nos tirar da recessão".
Contudo, tudo indica que a chanceler alemã, Angela Merkel, não permitirá muitas mudanças seis meses antes de tentar sua reeleição nas eleições de setembro.