Economia

Trump reafirma apoio ao Brasil na OCDE, mas não dá prazos ou garantias

Secretário de Estado Mike Pompeo também reafirma apoio, apesar de ter enviado carta oficial apoiando entrada apenas de Argentina e Romênia, sem citar Brasil

Trump e Bolsonaro: em maio, presidente norte-americano declarou apoio oficial à entrada do Brasil na OCDE (Pool/Getty Images)

Trump e Bolsonaro: em maio, presidente norte-americano declarou apoio oficial à entrada do Brasil na OCDE (Pool/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 21h14.

Última atualização em 11 de outubro de 2019 às 13h27.

Brasília — Os Estados Unidos não mencionaram apoio ao ingresso do Brasil em carta enviada à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no fim de agosto em que manifestaram respaldo às candidaturas da Argentina e da Romênia, mas reafirmaram mais tarde nesta quinta-feira (10) o suporte ao esforço do Brasil para aderir à entidade.

O presidente norte-americano, Donald Trump, publicou em sua conta no Twitter que o anúncio feito em março, durante visita de Jair Bolsonaro à Casa Branca, deixa clara a posição de apoio dos Estados Unidos ao ingresso do Brasil na organização. Em maio, o governo de Trump anunciou apoio oficial à investida brasileira.

Após o mal-estar causado pela notícia da carta norte-americana à OCDE, no início da noite o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, reafirmou o apoio à aspiração brasileira.

"Somos apoiadores entusiasmados da entrada do Brasil nesta importante instituição, e os EUA farão um grande esforço para apoiar a adesão do Brasil", disse Pompeo em comunicado.

Mais cedo, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília publicou nota intitulada "EUA mantêm apoio à OCDE" em que afirma que o país mantém os termos da declaração conjunta de Trump e Jair Bolsonaro, de 19 de março, que "afirmou claramente o apoio ao Brasil para iniciar o processo para se tornar um membro pleno da OCDE".

"Apoiamos a expansão da OCDE a um ritmo controlado que leve em conta a necessidade de pressionar as reformas de governança e o planejamento de sucessão. Continuaremos a trabalhar com outros membros da OCDE para encontrar um caminho para a expansão da instituição", afirmou a nota, acrescentando que todos os 36 membros da organização precisam concordar com o calendário e ordem dos convites para iniciar processo de adesão.

À noite, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o país segue confiante na adesão à OCDE.

"Estamos praticamente chegando lá, mas dois países estavam na nossa frente, Argentina e Romênia", disse o presidente, justificando o recuo norte-americano. "O Brasil, vai chegar sua hora."

Outras autoridades do governo também reagiram à notícia, argumentando que a posição dos EUA não havia mudado.

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que se reuniu nesta quinta-feira com o secretário-geral adjunto da OCDE, Ludger Schuknecht, em São Paulo, "na continuidade das nossas tratativas para que o Brasil possa caminhar em direção à ascensão da OCDE".

O Itamaraty afirmou que "os EUA continuam apoiando plenamente o ingresso do Brasil na OCDE" e que o governo brasileiro não vê "problema algum" no início do processo de adesão da Argentina e da Romênia.

Europa

Mais cedo, uma fonte ouvida pela Reuters avaliou que a carta não rejeitava o endosso ao pedido brasileiro e se inseria em um xadrez político maior, que inclui a oposição dos EUA à gestão de Angel Gurría, secretário-geral da OCDE.

O governo dos Estados Unidos não compartilha a visão de Gurría para as regras da organização, pela avaliação de que os rumos pretendidos preconizam uma influência excessiva da Europa sobre a OCDE, sendo que norte-americanos e europeus já divergem em relação a uma série de padrões, ligados por exemplo à tecnologia, regulação e meio-ambiente.

De acordo com uma das fontes, enquanto os EUA miram a sucessão de Gurría --que deverá ocorrer em 2020--, a perspectiva é que não irão se manifestar formalmente sobre qualquer mudança mais no desenho para adesão de novos membros.

"A rusga dos dois principais polos de poder (na OCDE) --polo americano e polo europeu-- provavelmente só vai se resolver com a própria sucessão do Gurría no ano que vem", disse a fonte.

Argentina e Romênia requerem participação no que é considerado o clube dos países ricos, assim como Brasil e Bulgária. Com o ingresso de mais dois países europeus no grupo, norte-americanos avaliam que uma OCDE mais "europeizada" poderia ser uma barreira aos seus interesses.

O timing da carta, de acordo com a primeira fonte, também tem referência ao resultado das eleições primárias na Argentina.

No início de agosto, o mercado argentino sofreu forte abalo na esteira da esmagadora vitória do candidato de oposição Alberto Fernández nas eleições primárias, afetando severamente as chances de reeleição do presidente Mauricio Macri.

Fernández tem a ex-presidente Cristina Kirchner como sua companheira de chapa, enquanto Macri é defensor do livre mercado e é visto como aliado dos EUA.

Na carta, os americanos teriam favorecido o critério de cronologia, dando apoio aos argentinos, que começaram o processo de adesão primeiro e que já tinham respaldo de Trump há mais tempo. O momento de envio também teria sido uma forma de sinalizar apoio ao governo Macri, segundo a fonte. As eleições na Argentina ocorrem no fim deste mês.

A solicitação formal do Brasil para se juntar à OCDE foi feita em maio de 2017, representando um esforço para fortalecer os laços com as nações desenvolvidas do Ocidente, depois que governos anteriores priorizaram as relações com países em desenvolvimento.

A OCDE aconselha seus membros, na sua maioria países ricos, e é considerada uma influenciadora-chave na arquitetura econômica mundial. Dentre os emergentes que fazem parte do grupo, estão países como Turquia, México e Chile.

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