Menino segura bandeira dos Estados Unidos: os EUA em vias de superar o ritmo de crescimento mundial pela primeira vez desde 1999 (REUTERS/Lucy Nicholson)
Da Redação
Publicado em 26 de janeiro de 2015 às 19h23.
Paris - Para a economia mundial existem dois grupos: os EUA e os outros.
Essa foi a conclusão de investidores, executivos e responsáveis pela política econômica no encerramento da viagem anual a Davos, Suíça, na semana passada, com os EUA em vias de superar o ritmo de crescimento mundial pela primeira vez desde 1999.
As comemorações foram colocadas em surdina pelas perguntas sobre se a expansão mais forte dos EUA em 11 anos provará ter força suficiente para impulsionar a economia mundial ou se será anulada pela desaceleração do crescimento da Europa e da China.
“Os EUA podem ajudar o mundo de forma marginal, mas não podem fazer isso sozinhos”, disse o ex-vice-secretário do Tesouro dos EUA, Stuart Eizenstat. Ele disse que ainda existe uma chance de 50 por cento de que o peso do resto do mundo demonstre ser maior do que o impulso gerado pela recuperação dos EUA.
As diversas velocidades da economia mundial já ameaçam os EUA impulsionando o dólar para seu máximo valor em 11 anos frente ao euro. Poucos participantes em Davos estão dispostos a apostar contra maiores ganhos do dólar.
“Neste momento, os EUA parecem ser o melhor lugar do mundo para investir”, disse David Rubenstein, um dos fundadores do Carlyle Group LP. “O maior problema dos EUA é que o dólar poderia se fortalecer muito”.
O poderio econômico dos EUA estava à vista durante o encontro de quatro dias nos Alpes Suíços. Executivos como Sheryl Sandberg, do Facebook Inc., e Indra Nooyi, da PepsiCo Inc., percorriam o salão de conferências e várias empresas, da Salesforce Inc. até a McKinsey Co., organizaram festas espetaculares.
Pontos ativos do mundo
A maior economia do mundo é um dos poucos pontos ativos globais. A Europa está tentando evitar a deflação, a China está desacelerando e a queda dos preços das commodities está prejudicando países como o Brasil e o Canadá.
Na semana passada, o FMI fez a maior redução da sua previsão de crescimento mundial em três anos, diminuindo a projeção de 3,8 por cento para 3,5 por cento em 2015.
Economistas do Deutsche Bank AG preveem que os EUA contribuirão com cerca de 18 por cento para o crescimento mundial em 2015, na comparação com 11 por cento para todas as outras economias industrializadas juntas. O FMI prognostica que a economia americana crescerá 3,6 por cento neste ano.
A preocupação em Davos era que o mal-estar na Europa e em partes da Ásia pudesse acabar minando essa fortaleza.
“Eu estou um pouco mais preocupado com os EUA no próximo trimestre”, disse Larry Fink, CEO da BlackRock Inc., em uma entrevista com a Bloomberg Television.
Fink foi um dos que notou que a economia já está sentindo os efeitos negativos da sua sorte relativa na forma de um dólar em ascensão. O dólar subiu cerca de 15 por cento em uma ponderação dos últimos doze meses, ameaçando afetar exportadores e desacelerar uma inflação que já é fraca.
Poucas opções
Os investidores em busca de oportunidades alternativas de investimento têm poucas opções. Após empurrar o mundo para fora da sua recessão em 2009, a China cresceu no seu ritmo mais lento em pelo menos 24 anos em 2014 ao mesmo tempo em que seus líderes tentam reequilibrar a economia em direção ao gasto do consumidor.
A zona do euro e o Japão enfrentam ameaças deflacionárias e os preços fracos do petróleo e do minério de ferro ameaçam mercados emergentes, como o Brasil, e exportadores desenvolvidos de commodities, como a Austrália.
Evidências de alarme apareceram na semana passada, quando o Banco do Canadá e o Banco Central Europeu flexibilizaram suas políticas monetárias inesperadamente ou em maior grau do que os investidores previram. O BCE foi elogiado em Davos por implementar um programa de flexibilização quantitativa de 1,1 trilhão de euros (US$ 1,23 trilhão).
Mas o presidente do Blackstone Group LP, Stephen Schwarzman, resumiu o estado de ânimo predominante em Davos.
“O consenso aqui é a preocupação porque se você não tem seu domicílio nos EUA, há muito com que se preocupar”, disse ele à Bloomberg Television. “Há mais cautela diante de um EUA forte”.