Economia

EUA e China se armam para guerra comercial com retórica pesada

Tarifas norte-americanas sobre produtos chineses aumentaram a tensão entre os países, e OMC pediu moderação

Xi Jinping: China anunciou nesta sexta taxação de 128 linhas tarifárias americanas se negociações com Washington fracassarem (Damir Sagolj/Reuters)

Xi Jinping: China anunciou nesta sexta taxação de 128 linhas tarifárias americanas se negociações com Washington fracassarem (Damir Sagolj/Reuters)

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AFP

Publicado em 23 de março de 2018 às 19h53.

Última atualização em 29 de março de 2018 às 15h51.

Estados Unidos e China, as maiores economias do mundo, preparam suas armas para uma potencial guerra comercial com uma retórica pesada, que desperta preocupações para confrontos com consequências imprevisíveis.

Washington deu o primeiro golpe ao anunciar tarifas contra produtos chineses por pelo menos 50 bilhões de dólares, e Pequim respondeu com medidas de reciprocidade.

O cenário de incertezas generalizadas provocou uma tendência à queda nas principais bolsas de valores, uma prévia do impacto que esta crise pode ter nos mercados financeiros.

Em Wall Street, o índice industria Dow Jones já tinha caído 3% na quinta-feira e recuou mais 1,7%, enquanto na Europa as bolsas de Londres, Frankfurt, Milão e Madri também derraparam.

Na própria China, as bolsas de valores de Xangai, Shenzen e Hong Kong fecharam em baixa, bem como Tóquio.

OMC pede 'moderação

A Organização Mundial do Comércio (OMC) pediu "moderação e diálogo urgentes".

"Perturbar o fluxo comercial pode ameaçar a economia mundial", alertou o diretor-geral do organismo, o brasileiro Roberto Azevêdo.

"Se nos atacarem, reagiremos sem fraqueza", indicou o presidente francês, Emmanuel Macron, ao fim de uma cúpula europeia em Bruxelas dedicada ao comércio.

Para o primeiro-ministro belga, Charles Michel, o presidente dos Estados Unidos tenta negociar colocando "um revólver na cabeça" da UE.

Nesta sexta-feira, no entanto, o presidente Donald Trump observou que Washington já iniciou negociações comerciais com vários outros países e afirmou que seu governo agora pode ter acordos "justos", graças a sua posição mais firme.

Washington já anunciou que irá isentar temporariamente das tarifas de aço e alumínio a União Europeia e vários países, como Brasil, Canadá, México, Argentina e Coreia do Sul.

"Muitos países estão negociando acordos justos conosco, e uma das razões, francamente, por que podemos fazer isso é que agora temos tarifas sobre as importações de aço e alumínio", disse o presidente.

"Lutar até o fim"

"A China não tem, em absoluto, medo de uma guerra comercial", advertiu o ministro chinês do Comércio.

"Se uma guerra comercial começar, a China lutará até o fim para defender seus interesses legítimos com todas as medidas necessárias", afirmou a embaixada chinesa em Washington na quinta-feira.

Também na quinta, o presidente Donald Trump assinou, na Casa Branca, uma resolução que orienta o USTR a elaborar em 15 dias uma lista de produtos chineses, cuja importação para os Estados Unidos passará a ser alvo de tarifas pesadas.

Washington alega que as empresas norte-americanas são forçadas a repassar tecnologias, patentes e propriedade intelectual para operar na China, e isso caracteriza uma "concorrência desleal" que motiva a adoção de medidas comerciais.

A China respondeu nesta sexta com uma lista de 128 produtos, ou linhas tarifárias, sobre os quais aplicará taxas de 15%, ou 25%, se as negociações com Washington não forem satisfatórias.

As represálias chinesas parecem moderadas: os produtos afetados seriam equivalentes a 3 bilhões de dólares em exportações à China no ano passado, isto é, apenas 2% do total das exportações dos Estados Unidos para este país em 2017.

Produtos como frutas, vinho, etanol, ginseng e tubos de aço sem soldadura poderiam ser taxados em 15%, enquanto carne suína e alumínio reciclado chegariam a 25%.

A lista não inclui, contudo, a soja. Os Estados Unidos exportaram 14 bilhões de dólares da leguminosa para a China no ano passado.

Moderação com a UE

O secretário americano do Comércio, Wilbur Ross, explicou que as sanções a Pequim são o "prelúdio de uma série de negociações".

Já Lighthizer destacou que as medidas buscam, principalmente, preservar o setor de alta tecnologia, a "parte mais essencial" da economia americana.

Pequim obrigada empresas estrangeiras que querem operar em seu mercado a compartilharem tecnologia com seus sócios chineses, explicou Everett Eissenstat, assessor de Trump. Para Washington, isso constitui roubo de propriedade intelectual americana e uma "concorrência desleal".

Além disso, os Estados Unidos alegam também o enorme déficit comercial com a China - de 375,2 bilhões de dólares em 2017, segundo as aduanas chinesas.

Os Estados Unidos tentam obter o respaldo de seus outros parceiros comerciais.

"É um problema que envolve todo o mundo. Todos que comercializam com a China passam por isso", avaliou Peter Navarro, assessor comercial de Trump.

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