Economia

EUA e China retomam negociações comerciais sob tensão

Potências econômicas estão competindo por domínio em indústrias de alta tecnologia do futuro, diz representante americano

EUA-China: Potências mundiais negociam comercialmente há meses (Yuri Gripas/Reuters)

EUA-China: Potências mundiais negociam comercialmente há meses (Yuri Gripas/Reuters)

A

AFP

Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 15h18.

Estados Unidos e China retomaram nesta quarta-feira suas complicadas negociações comerciais em Washington em um clima de alta tensão, alimentado por acusações contra a gigante chinesa de telecomunicações Huawei e um de seus líderes.

Nessas conversas, as duas primeiras potências econômicas mundiais estão competindo pelo domínio nas indústrias de alta tecnologia do futuro, segundo o representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, que chefia os negociadores norte-americanos.

A China lançou o plano "Made in China 2025" em 2015, com o objetivo de transformar o país em um líder mundial em setores futuros, como aeronáutica, robótica, telecomunicações, inteligência artificial e veículos de energia limpa.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se mostrou várias vezes a favor da economia chinesa prosperando, mas não em detrimento das empresas americanas.

"Desleais"

Washington quer acabar com práticas comerciais que considera "injustas", como a transferência de tecnologia imposta a empresas estrangeiras na China, o roubo de propriedade intelectual dos Estados Unidos e os grandes subsídios concedidos a empresas estatais chinesas.

Para forçar Pequim a corrigir essas distorções do comércio, a Casa Branca impôs novas tarifas de 250 bilhões de dólares em produtos chineses. E ameaça aumentar as tarifas de produtos chineses no valor de 200 bilhões de dólares de 10 a 25%.

A China respondeu aplicando tarifas adicionais a 110 bilhões de dólares em produtos dos EUA. Dadas as dificuldades das negociações, nenhum especialista prevê que seja feito um acordo completo após os dois dias de conversações em Washington.

O secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, implicitamente descartou a possibilidade de um acordo imediato quando lembrou que, após essas negociações, seu país e a China ainda terão 30 dias antes do fim da trégua comercial decretada em 1º de dezembro entre Trump e seu colega chinês, Xi Jinping.

Um acordo parece ainda menos provável depois que o departamento de Justiça americano apresentou na segunda-feira 13 acusações contra a chinesa Huawei e sua diretora financeira, Meng Wanzhou, por não respeitar as sanções dos Estados Unidos contra o Irã, e mais dez contra a contra a empresa por roubo de tecnologia.

Washington diz no momento que esta questão não tem nada a ver com negociações comerciais.

"São questões diferentes com tratamento diferente", disse Mnuchin na terça-feira.

A China, por sua vez, acusou os Estados Unidos de "manipulações políticas" no caso Huawei.

"Estados Unidos usam o poder do Estado para desacreditar e atacar determinadas empresas chinesas, em uma tentativa de estrangular suas operações, que são legítimas e legais", afirmou em um comunicado Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores.

"Por trás disto há fortes observações políticas, manipulações políticas", completou.

Para Monica De Bolle, especialista do Instituto Peterson de Economia Internacional, "está claro que o caso da Huawei torna as negociações comerciais muito difíceis" e pode levar a "uma ruptura" nas negociações.

Acompanhe tudo sobre:ChinaEstados Unidos (EUA)

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto