Economia

Estratégia de manter dólar acima de R$ 2 ajuda crescimento

Agentes econômicos e fontes do governo avaliam que a faixa de 2 a 2,10 reais para o dólar está favorecendo o setor exportador brasileiro sem prejudicar as empresas


	Dólar: "O dólar não foi para uma patamar ideal, mas está bem melhor do que antes", diz o presidente da Associação dos Exportadores Brasileiros
 (Getty Images)

Dólar: "O dólar não foi para uma patamar ideal, mas está bem melhor do que antes", diz o presidente da Associação dos Exportadores Brasileiros (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2012 às 11h39.

São Paulo/Brasília - A mão forte do governo Dilma continuará sobre o câmbio nos próximos dois anos, numa estratégia considerada correta -apesar de arriscada- para garantir um patamar adequado ao crescimento da economia brasileira.

Agentes econômicos e fontes dentro do governo avaliam que a faixa de 2 a 2,10 reais para a moeda norte-americana está favorecendo o setor exportador brasileiro sem prejudicar as empresas dependentes de importações ou criar pressões inflacionárias. Além disso, a estabilidade do câmbio nesse nível tem o potencial de incentivar planos de investimento.

"O dólar não foi para uma patamar ideal, mas está bem melhor do que antes", avaliou o presidente da Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB), José Augusto de Castro.

De acordo com importante integrante da equipe econômica, o dólar acima de 2 reais ajuda a impulsionar a economia, ampliando a competitividade da indústria e dos produtos exportados.

"Aos poucos, veremos o efeito disso na exportação, essa é nossa estratégia. Entendo que estamos em patamar mais favorável no câmbio", disse a fonte sob a condição de anonimato.

A balança comercial do país nos dois primeiros anos do governo Dilma reflete a desaceleração da demanda mundial, afetada pela crise internacional, e a dificuldade dos exportadores em manter a competitividade.

Neste ano, os resultados serão modestos, com o governo projetando queda de 5 por cento nas exportações --na comparação com os 256 bilhões de dólares do ano passado--, o primeiro recuo desde 2009.

Nos primeiros 11 meses do ano, o superávit comercial acumulou 17,185 bilhões de dólares em novembro, 34 por cento a menos do que em igual período de 2011, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Em todo ano passado, o saldo positivo foi de 29,795 bilhões de dólares.

ÂNCORA E PREVISIBILIDADE Para o ex-diretor do Banco Central e economista da Confederação Nacional do Comércio Carlos Thadeu de Freitas, a tendência é que aumentos ou cortes de impostos sobre o capital externo funcionem como "âncora" da política cambial na segunda metade deste governo.

Na avaliação de Freitas, apesar de estar na mínima histórica de 7,25 por cento ao ano, a Selic continua sendo uma das mais altas taxas de juros do mundo, capaz de seguir atraindo investimento de fora, tornando necessária essa âncora "para manter o dólar da faixa entre 2,00 reais e 2,10 reais".

No setor produtivo também não há dúvidas de que o mercado de câmbio continuará sob forte vigilância das autoridades.

"Esperamos bastante ativismo cambial", disse o gerente executivo de políticas econômicas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, para quem é preciso manter o atual patamar do câmbio para criar "um ambiente de previsibilidade".

Essa previsibilidade, argumentou Castelo Branco, deve gerar um impacto positivo nos projetos de investimentos.


O dólar atingiu 2 reais em meados de maio e permanece acima desse nível desde então. Mas ainda que haja consenso quanto aos 2,00 reais como nível mínimo defendido pelo governo, as discussões sobre o teto são divergentes.

"Nós imaginávamos que... (o dólar) poderia subir para 2,20 reais ou até mesmo um pouco mais", afirmou Castro, da AEB, admitindo, porém, que um dólar mais alto preocupa o governo no que diz respeito à inflação.

Além da inflação, o governo também monitora o peso do endividamento em moeda estrangeira das empresas. Saltos maiores do dólar poderiam acertar em cheio a capacidade de investimento.

"Não queremos um mercado disfuncional, nem inflação", resumiu uma outra fonte da equipe econômica à Reuters.

Segundo essa fonte, boa parte do governo enxerga o dólar nos patamares de 2,03 a 2,04 reais como satisfatório, uma vez que eleva a competitividade das exportações e melhora os investimentos sem pressionar a inflação.

RISCOS A equipe econômica terá, no entanto, muito trabalho à frente para manter o dólar em níveis que considere eficientes, e sua própria atuação pode atrapalhar.

"Todo esse excesso de intervencionismo do governo pode ser muito ruim a longo prazo, pois pode prejudicar a recuperação dos investimentos privados", afirmou o consultor de pesquisas econômicas do Banco de Tokyo-Mitsubishi Mauricio Nakahodo, devido ao ambiente de incerteza que ele cria.

Os riscos que a crise global coloca sobre essa estratégia também são muito grandes. Nos últimos anos, os bancos centrais dos países desenvolvidos fizeram massivas injeções de liquidez para tentar alavancar o crescimento de seus mercados.

Em busca de maior rentabilidade, investidores direcionaram grande parte desse capital para mercados emergentes, o que o governo brasileiro cunhou de "tsunami monetário" para então se defender da "guerra cambial".

Ainda assim, o dólar avançou cerca de 25 por cento ante o real desde que Dilma assumiu a Presidência, em 2011, graças, em boa parte à atuação do governo.

Mas todo esse esforço com o câmbio não é suficiente, na avaliação dos especialistas, para compensar outras deficiências que atrapalham o crescimento do país, como a questão tributária, os gargalos logísticos e os entraves burocráticos.

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