"A vitória de Dilma traria uma forte correção para baixo nos ativos brasileiros", afirmou economista Enestor dos Santos (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2014 às 12h29.
São Paulo - Os analistas e investidores estrangeiros não veem outra saída para a crise de confiança sofrida pelo Brasil que não mudanças importantes na política econômica e, por isso, esperam uma amenização do discurso de Dilma Rousseff caso a petista seja reeleita no domingo.
Só um discurso que sinalize mudanças e reformas ajudaria a evitar uma piora do mercado financeiro brasileiro na semana que vem caso ela assuma o segundo mandato. A visão dos analistas consultados pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, é que a paciência em Wall Street e na City londrina com o rumo da economia brasileira está no limite.
As mais recentes pesquisas eleitorais que mostraram inversão da vantagem numérica para Dilma Rousseff no segundo turno fizeram com que muitos analistas voltassem a trabalhar com o cenário de vitória da candidata petista. Caso a reeleição se confirme, analistas avaliam que os mercados reagirão negativamente, mas muitos concordam que após o pleito Dilma pode amenizar o discurso.
"A vitória de Dilma traria uma forte correção para baixo nos ativos brasileiros. A bolsa recuaria ainda mais e o real perderia um pouco mais de força, mas, olhando para depois das eleições, imagino que Dilma e o próprio PT devem tentar sinalizar uma reaproximação com o mercado. Se for a vitoriosa, a presidente também vai querer reduzir turbulências", diz o economista para o Brasil do BBVA Research em Madri, Enestor dos Santos.
O analista prevê que, sem o calor da disputa eleitoral, Dilma poderá "adotar discurso mais amigável".
"Se isso vier acompanhado de gestos, a reação positiva dos ativos vai ser forte", diz. Um movimento que poderia ser usado como comparação foi o realizado no meio do ano passado, quando o governo federal reviu condições e ofereceu maior rentabilidade em concessões públicas em resposta à reclamação dos investidores.
O Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês), formado pelos maiores bancos do mundo, alerta que se o próximo presidente, Dilma ou Aécio Neves, falhar em adotar uma política econômica mais amigável ao mercado e que reaqueça a fraca atividade econômica do País, a paciência dos investidores estrangeiros pode ser colocada em cheque e o Brasil ficará mais vulnerável ao aumento da aversão do risco que paira na economia global desde o mês passado.
Se as esperadas mudanças não vierem, pode ocorrer fuga de capital do País, afirma o IIF, com sede em Washington. O IIF recentemente rebaixou a previsão de crescimento para o Brasil e vê o PIB do Brasil avançando apenas 0,1% este ano, um dos piores níveis entre os países emergentes.
Em Londres, um dos maiores brasilianistas em atividade, o diretor do Brazil Institute do King's College London, Anthony Pereira, concorda que o fim da disputa eleitoral favorece a adoção de um discurso mais conservador na economia.
"Apesar da reação negativa dos mercados, eu acho que Dilma pode mudar a economia e fazer cortes. É bom lembrar que a presidente foi conservadora em termos econômicos no primeiro ano do primeiro mandato, em 2011", disse.
O pesquisador do King's College diz que mudanças podem ser impostas pela necessidade de Dilma Rousseff reconquistar a confiança do capital privado - fator essencial para executar a lista de projetos de infraestrutura prometidas pela candidata.
"Nesse aspecto, a diferença é que Dilma precisa reconquistar a credibilidade do mercado. Aécio não".
Para reconquistar a confiança de Wall Street e dos grandes investidores europeus, mudanças no conjunto de políticas monetárias e fiscal são indispensáveis, avalia o chefe para mercados emergentes da Pimco, maior gestora de bônus do mundo, Michael Gomez, em uma análise sobre o País.
É por isso, diz ele, que essa eleição vem sendo acompanhada tão de perto pelo mercado financeiro, porque a ansiedade por mudanças é grande. Contas do governo desgovernadas, Tesouro fazendo aportes em bancos públicos, juros altos, inflação resistente à queda, tudo isso, avalia, precisa ser resolvido no curto prazo.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) é outro a cobrar reformas e mudanças relevantes no Brasil. Um ajuste fiscal gradual é esperado para o ano que vem. Além disso, a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, recomendou recentemente que o Brasil faça reformas, por exemplo, no mercado de trabalho, para aumentar a produtividade e estimular o investimento privado.
Outra prioridade deve ser o investimento em infraestrutura, para melhorar os gargalos em portos, estradas, geração de energia, que têm contribuído para travar o crescimento da economia brasileira e para a inflação seguir alta.
O nível "medíocre" do crescimento atual da economia mundial não vai ajudar a economia brasileira a deslanchar, afirmou estrategista de investimentos da gestora Fortress Investment, Michael Novogratz, famoso gestor de fundos de hedge de Wall Street.
Nesse ambiente desanimador, a principal expectativa é que as eleições desencadeiem mudanças relevantes, afirmou ele em uma apresentação recente.