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Vanessa Barbosa
Publicado em 10 de julho de 2018 às 17h31.
Última atualização em 10 de julho de 2018 às 17h50.
São Paulo - O mundo tem consumido peixe como nunca. Foram 20,3 quilos (Kg) por pessoa em média em 2016, ano com os dados consolidados mais recentes, comparado a pouco menos de 10 kg por habitante há quatro décadas. Desde 1961, segundo a ONU, o crescimento anual do consumo de peixe tem sido duas vezes maior do que o crescimento populacional, e já representa 17% do consumo de proteína no mundo.
Mais da metade da produção mundial de pescado (53%) é suprida pela aquicultura, um setor que se expandiu rapidamente durante os anos 80 e 90 e que, em 2016, alcançou 80 milhões de toneladas. Mas isso não significa que a pressão sobre os oceanos diminuiu.
Cerca de 30% das principais espécies de peixes comerciais monitoradas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estão submetidas a níveis biologicamente insustentáveis de pesca, situação considerada "preocupante" pela entidade.
Há quarenta anos, apenas 10% eram pescadas de maneira insustentável, enquanto 90% eram exploradas em níveis biologicamente sustentáveis, ante a taxa atual de 59,9%, o que revela uma tendência nociva de longo prazo. Os dados são da última edição do relatório Estado da Pesca e Aquicultura Mundiais (SOFIA, na sigla em inglês), divulgado anualmente pela FAO.
A sobrepesca assume caráter crônico no Mediterrâneo e Mar Negro, onde 62,2% dos estoques de peixe são exploradas acima da capacidade de reposição do ecossistema, seguido do Sudeste do Pacífico (61,5%), região que abrange 30 milhões de km² a partir da costa ocidental da América do Sul, da Colômbia até o Chile.
Em 2016, foram capturados na natureza 90,9 milhões de toneladas de peixes, um ligeiro decréscimo de 2 milhões de toneladas em relação ao ano anterior, devido principalmente ao fenômeno El Niño. Em geral, o volume de capturas estabilizou-se desde a década de 1990, segundo a FAO, graças ao crescimento da produção em cativeiro.
De acordo com o relatório, até 2030, a produção combinada de pesca de captura e aquicultura chegará a 201 milhões de toneladas. É um aumento de 18% em relação ao nível atual de produção, de 171 milhões de toneladas.
Mas o crescimento futuro exigirá esforços contínuos para fortalecer os regimes de gestão de pesca, reduzindo perdas e desperdícios (atualmente, um em cada três peixes capturados em todo o mundo não chega ao prato), e abordando questões como a pesca ilegal, a poluição dos ambientes aquáticos e a mudança climática, destaca o relatório.
"O setor pesqueiro é crucial para cumprir a meta da FAO de um mundo sem fome e desnutrição, e sua contribuição para o crescimento econômico e o combate à pobreza está aumentando", disse o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, em comunicado.
"No entanto", acrescentou ele, "o setor tem desafios, incluindo a necessidade de reduzir a porcentagem de estoques pesqueiros capturados além da sustentabilidade biológica". Lidar com esta situação exigirá parcerias na coordenação de políticas, na mobilização de recursos financeiros e humanos e na implantação de tecnologias para monitorar a atividade, destaca o relatório.
Pesca fantasma
Também serão necessários maiores esforços para combater o abandono de restos de materiais de pesca e a contaminação por microplásticos nos oceanos.
A cada ano, cerca de 640 mil toneladas de equipamentos são deixados nos mares, colocando em risco a vida de milhares de seres marinho, prática conhecida como pesca fantasma.
Segundo a ONG World Animal Protection (Proteção Animal Mundial), de 5 a 30% do declínio de algumas espécies marinhas pode ser atribuído aos petrechos fantasma, número que tende a aumentar se nada for feito.
Sete em cada dez (71%) animais capturados por esses materiais abandonados acabam morrendo nos oceanos. Além do risco ao animal, equipamentos fantasmas geram alto impacto ambiental por serem, em geral, feitos de plástico, o que agrava a poluição nos oceanos.
Monitorar esses materiais seria uma forma de mitigar o problema, segundo a ONG, que solicita aos países membros da FAO que garantam que até 2025 todas as redes estejam identificadas e marcadas. Com a marcação, diz a ONG, as agências de controle conseguirão realizar fiscalizações mais eficientes e estabelecer punições às empresas e aos pescadores que não mudarem suas operações.