O governador de São Paulo, João Doria, defendeu a adoção gradual do aumento da contribuição para a Previdência pelos servidores (João Doria/Facebook/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de janeiro de 2019 às 11h27.
Última atualização em 23 de janeiro de 2019 às 11h33.
Brasília e Davos - Com um rombo na Previdência próximo dos R$ 100 bilhões, os estados que ainda não elevaram suas alíquotas previdenciárias querem que o governo federal adote essa medida para evitar o desgaste político local de ter de propor o aumento às Assembleias Legislativas.
A Constituição prevê que a contribuição previdenciária cobrada dos servidores da União serve de piso para alíquota praticada em estados e municípios.
O aumento da alíquota previdenciária está sendo avaliado pelo governo federal dentro do conjunto de propostas para atenuar o déficit da Previdência, embora não precise constar na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma - basta um projeto de lei ou medida provisória para elevar a contribuição.
Em entrevista concedida em Davos ao Estadão/Broadcast, o governador de São Paulo, João Doria, defendeu a adoção gradual do aumento da contribuição para a Previdência pelos servidores públicos.
Segundo ele, o aumento é necessário, mas teria de ser adotado com gradualismo para não "machucar" o planejamento financeiro dos servidores. "É necessário. Até para preservar as condições dos servidores receberem seu salário em dia. E tendo suas vantagens pagas em dia", afirmou.
Doria disse ainda que 22 dos 27 governadores vão articular com as bancadas para aprovar a reforma da Previdência. A medida é considerada ainda mais prioritária no caso dos estados - sete deles já decretaram calamidade financeira, pressionados principalmente pelo avanço dos gastos com aposentadorias e pensões dos servidores.
A elevação da alíquota, embora não resolva o problema estruturalmente, dá um fôlego aos cofres estaduais e é onde há espaço para atuar com algum efeito imediato sobre as finanças. Apenas oito estados já cobram de seus servidores uma alíquota de 14% ou mais: Acre, Bahia, Ceará, Goiás, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A maioria ainda desconta 11% de seus servidores.
O Rio Grande do Norte, que enfrenta grave crise financeira, já tem projeto de lei aguardando votação na Assembleia Legislativa. O governo de Romeu Zema em Minas Gerais já deu indicações de que vai elevar as alíquotas previdenciárias - a medida é inclusive pré-requisito para ingressar no Regime de Recuperação Fiscal em negociação com a União.
O aumento da contribuição é um dos poucos instrumentos que os governadores têm em mãos para fazer frente ao aprofundamento do rombo na Previdência.
A elevação da alíquota já foi tentada antes pelo ex-presidente Michel Temer, que editou uma MP prevendo o aumento, mas a medida acabou suspensa no apagar das luzes de 2017 pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski.
À época, estimativas do governo apontavam que os estados e o Distrito Federal poderiam arrecadar R$ 1,8 bilhão a mais por ano com a alíquota maior.
O artigo 149 da Constituição prevê que a alíquota previdenciária cobrada dos servidores da União é piso para o funcionalismo estadual e municipal - ou seja, funcionários públicos de estados e municípios não podem ter contribuição menor que a dos servidores federais.
O presidente do Conselho de Secretários de Fazenda dos estados (Comsefaz), Rafael Fonteles, afirmou que alguns estados não têm planos para elevar as alíquotas, mas reconheceu que a medida no plano federal acabaria resultando em aumento generalizado.