O ministro da Fazenda, Joaquim Levy: “quanto mais a situação piora, mais a Dilma depende do ministro”, diz especialista (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2015 às 20h35.
O mercado financeiro aposta na continuidade de Joaquim Levy na Fazenda.
O desconforto da combinação de recessão, inflação muito acima da meta e baixa confiança dos investidores não só não prejudica a situação do ministro como o fortalece.
Prevalece a ideia de que a saída de Levy do governo aprofundaria a crise.
“Quanto mais a situação piora, mais a Dilma depende do ministro”, diz Carlos Kawall, economista do Banco Safra.
O chamado fogo amigo, em que um ministro sofre críticas dentro do próprio governo, ocorreu em todos os governos do passado e também acontece em outros países. “Eu mesmo senti isso na pele quanto estive no governo”, diz Kawall, que comandou o Tesouro em 2006.
Para Kawall, a alta recente do dólar está mais relacionada à valorização da moeda no exterior, impelida pelas apostas em elevação dos juros do Fed.
Se o real apanha mais que outras moedas é porque tem mais volatilidade. Os juros futuros têm acompanhando a alta do dólar, mas mantendo taxas mais longas na casa de 12,3%, abaixo dos juros de prazo mais curto, que estão acima de 13%.
Se o mercado cobra menos taxa em prazos maiores, é sinal de não há uma aposta aberta em deterioração da economia no médio e longo prazo.
Marcelo Schmitt, gestor de portfólio na SulAmérica Investimentos, reconhece que a curva de juros não embute uma aposta na saída de Levy, cujo trabalho é considerado vital na condução do ajuste fiscal. Isto não quer dizer que não existam dúvidas.
Uma delas é sobre o tempo que Levy ficará no governo, se apenas durante o período de ajuste ou se permanecerá em uma segunda fase, quando serão necessárias medidas para restabelecer o crescimento.
Há ainda outras pedras no caminho. Ainda que Levy conte com o apoio de Dilma, o mesmo não vale para os políticos. “Parte do PT está contra o ajuste, o PMDB não quer assumir sozinho o custo de medidas impopulares e o PSDB vota contra porque é oposição”, observa Schmitt.
Também preocupa a queda da receita, causada pela baixa atividade da economia e que obriga o governo a recorrer a aumentos de impostos, que são prejudiciais à produção.
“A apreensão maior do mercado não é com o compromisso do governo com o ajuste fiscal”, diz Kawall.
Os últimos pronunciamentos da presidente Dilma e dos ministros Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa, do Planejamento, ajudaram a reduzir os receios do mercado sobre o status de Levy no governo, diz Ricardo Ribeiro, analista político da consultoria MCM.
Mas ainda restam dúvidas: Por que Levy não foi ao anúncio dos cortes do Orçamento? E o que explica a diferença de R$ 100 milhões entre o valor dos cortes anunciado (R$ 69,9 bilhões) e as estimativas do ministro (R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões)?
Para o governo de uma presidente conhecida por ser detalhista e centralizadora, uma diferença tão pequena para atingir o patamar mínimo defendido pelo ministro chamou a atenção.
“O Levy não vai sair no curto prazo. Mas ficou uma desconfiança após o anúncio do Orçamento”, diz Ribeiro da MCM.