Ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof: país tem dívida em default de US$ 1,33 bi (Mandel Ngan/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2014 às 17h39.
Buenos Aires - A Argentina esperava para esta terça-feira a resposta do juiz americano ao seu pedido de suspensão da execução da sua sentença para avançar nas negociações com fundos especulativos e pagar sua dívida em default de 1,33 bilhão de dólares.
No momento em que a Argentina está na expectativa pela abertura do diálogo com os fundos especulativos, o ministro argentino de Economia, Axel Kicillof, viaja para Nova York com o objetivo de apresentar a questão da dívida aos membros da ONU na próxima quarta-feira, anunciou a Chancelaria.
Buenos Aires pediu na segunda-feira ao juiz de Nova York, Thomas Griesa, uma "medida suspensiva" da sentença que obriga o país a fazer o pagamento aos fundos NML Capital e Aurelius.
Sem responder ao pedido, o magistrado designou na segunda-feira Daniel Pollack, advogado especialista em temas financeiros, para que "conduza e presida" as negociações entre as partes.
"A designação de um facilitador de diálogo é um sinal importante de que há grandes possibilidades de acordo", disse o economista Dante Sica, da consultora Abeceb, em uma coletiva de imprensa concedida a correspondentes estrangeiros.
No entanto, o governo advertiu que continua esperando "a resposta concreta" ao seu pedido para que o juiz conceda novamente a medida cautelar (stay, em inglês), que expirou na semana passada, declarou nesta terça-feira o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich.
A Argentina precisa desse "guarda-chuva legal" para negociar, explicou o ministro de Economia, Axel Kicillof.
Negociar sem uma medida cautelar é negociar com uma arma na cabeça, argumentam na pasta da Economia.
Essa cautelar permitiria ao país cancelar sem risco de embargo no dia 30 de junho em Nova York um vencimento do prazo para o pagamento de 900 milhões de dólares a credores que haviam renegociado a dívida em 2005 e 2010.
Em função da sentença de Griesa, o dinheiro destinado aos credores que aceitaram a reestruturação da dívida pode ser embargado pelos fundos especulativos que ganharam na justiça americana o litígio com a Argentina.
Isso implicaria uma nova moratória para a Argentina, que o governo de Cristina Kirchner quer evitar, após ter conseguido que quase 93% dos credores aceitassem a reestruturação da dívida, com pagamento suspenso no final de 2001 por aproximadamente 100 bilhões de dólares.
Semana crucial
"Esta semana é crucial e até segunda (30 de junho) deveremos saber se Griesa vai conceder novamente o 'stay' ou, quem sabe, pedir um depósito de garantia à Argentina para que demonstre sua disposição de pagar", estimou Sica.
De acordo com o economista, "hoje a chance de default foi bastante reduzida".
Embora haja um período de carência de um mês após dia 30 de junho, "se não houver acordo nesta semana, na segunda-feira começará um momento de muita volatilidade, com as agências classificadoras de risco baixando a nota dos títulos do país para D", afirmou Sica.
"Agora a Argentina tem que dar mostras contundentes a Griesa de que vai pagar a dívida e tentar fazer com que o stay se prolongue pelo máximo de tempo possível", admitiu.
O governo argentino reiterou sua disposição de pagar, mas advertiu que "o total da dívida nas mãos dos holdouts (credores da dívida suspensa) após a reestruturação da dívida excede a metade das reservas do país", de 28,8 bilhões de dólares, o que considera inviável.
Início de um acordo?
A cautela do governo contrasta com o clima de euforia vivido na última segunda-feira na Bolsa de Buenos Aires, que subiu 8,7%, embora nesta terça-feira, depois de terem começado em leve alta, as principais ações tenham baixado 0,10% durante o período de operações.
Segundo o jornal La Nación de Buenos Aires, as negociações já teriam começado nesta terça-feira em Nova York no escritório de Pollack.
Os fundos, chamados de "abutres" pela Argentina porque compraram a dívida já em default, chegam em posição de força à mesa de negociações, favorecidos pela decisão da justiça. Entretanto, expressaram sua disposição em aceitar parte do pagamento em títulos, o que permitiria a Buenos Aires evitar um desembolso em dinheiro.
O ex-diretor do Banco Central da Argentina, Aldo Pignanelli, garantiu que já existe um início de acordo.
"Pela informação que eu tenho, há um início de acordo, inclusive com um rascunho em debate", declarou Pignanelli à rádio Del Plata.
"Considero uma questão solucionada", insistiu o especialista.