Economia

Escândalos devem paralisar concessões, prevê economista

Com relação ao futuro próximo, o economista Armando Castelar considera que o Brasil está destinado a enfrentar mais um ano de "estagflação" em 2015


	Infraestrutura: empreiteiras relevantes foram envolvidas em investigações, lembra economista
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Infraestrutura: empreiteiras relevantes foram envolvidas em investigações, lembra economista (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2014 às 16h48.

São Paulo - As denúncias envolvendo supostos desvios de recursos na Petrobras e as investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, podem ter um efeito negativo sobre o andamento dos processos de concessões de infraestrutura.

A opinião é do economista Armando Castelar e coordenador de economia aplicada do IBRE/FGV. Segundo ele, pode haver uma paralisação nas concessões.

"Um programa de concessões ousado exige capacidade de gestão e capacidade de o setor publico se organizar. Imagino o receio que não vai haver no momento de se sentar com uma empreiteira para conversar daqui para a frente", comentou em palestra no Fórum Estadão Brasil Competitivo.

Ele lembrou que os nomes de grande parte das empreiteiras com papel relevante nos projetos de infraestrutura foram envolvidos nas investigações da Polícia Federal.

Para ele, o relacionamento do governo com as empreiteiras tende a ser redefinido daqui para a frente.

2015

Com relação ao futuro próximo, Castelar considera que o Brasil está destinado a enfrentar mais um ano de "estagflação" (combinação de estagnação do crescimento e inflação) em 2015.

Ele considerou que resta saber se este cenário se dará num ambiente de reação com um ajuste fiscal pelo governo ou se apenas em razão de falta de confiança das empresas e redução de investimentos.

Para ele, não deve haver uma grande mudança na política econômica no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, apenas ajustes marginais.

O economista afirmou que espera um déficit primário este ano, embora tenha afirmado que é difícil mensurar o montante exato.

Para ele, a recuperação a partir de então tende a ser difícil.

"Acho muito difícil passarmos de um governo que aumenta gasto público ano a ano para um governo que reduz gasto público", disse.

Castelar destacou o papel que receitas não recorrentes, como as obtidas por meio de concessões, tem tido nas contas públicas. Para ele, porém, esse impacto tende a se reduzir.

"No ano que vem, o cenário das concessões será cada vez mais complicado, notadamente no segmento de petróleo", comentou, lembrando as investigações em curso sobre supostos desvios na Petrobras.

Castelar acrescentou que um resultado primário negativo se torna ainda mais preocupante num momento em que os custos de captação do Tesouro sobem.

"Uma despesa relevante vai ser a de juros da dívida e isso vai afetar o resultado nominal", comentou. "Temos uma armadilha fiscal contratada nada trivial", ressaltou.

Para o economista, o espaço do governo para cometer erros na economia, mesmo que bem intencionados, desapareceu.

"De 2004 a 2011 não era tão custoso cometer esses erros bem intencionados. A grande questão agora é que o espaço desapareceu. A pergunta é se as políticas vão mudar e como erros serão tratados", comentou.

Crédito e consumo

O economista do IBRE/FGV comentou ainda sobre a relevância que o consumo vem tendo na conta do PIB brasileiro.

"Está se consumindo em um patamar insustentável e investindo cada vez menos, ou seja, não estamos criando bases para crescer no futuro", disse.

Castelar considerou que há uma tendência de escassez na oferta de crédito

. "Já há algum tempo os bancos privados pararam de aumentar crédito, mas vejo os bancos públicos também diminuindo, é uma área em que vai haver algum ajuste", disse. "O crédito no ano que vem vai ser mais escasso e já está mais caro do que era até recentemente", concluiu.

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