Terminal com grãos de soja o Porto de Santos: ano de 2013 registrou um grande interesse por soja do Brasil, após uma quebra de safra nos Estados Unidos no fim de 2012 (Germano Lüders)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2014 às 16h26.
São Paulo - A escala de navios previstos para partir de portos brasileiros em abril levando soja conta com um volume 40 por cento menor que o registrado um ano atrás, segundo dados de agências marítimas, em um indicativo de que a demanda chinesa está menos aquecida.
Até o momento, há cerca de 2,8 milhões de toneladas de soja previstas para embarque no próximo mês, contra 4,8 milhões de toneladas agendadas, um ano atrás, para abril de 2013, de acordo com levantamentos de agências marítimas analisados pela Reuters.
Se forem incluídos os navios ainda sem data prevista para atracar --mas que têm boas chances de serem embarcados em abril, tendo em vista a data de chegada ao porto e o tempo habitual de espera--, o "line-up" do próximo mês somaria 5,3 milhões de toneladas atualmente, contra 8,7 milhões para abril do ano passado.
"A China já mostrou que não está com tanta pressa de ter soja nos portos dela", disse o analista da Informa Economics FNP Aedson Pereira, que monitora este tipo de agendamento.
No início do mês, importadores chineses cancelaram até 600 mil toneladas de carregamentos de soja do Brasil e da Argentina para envio entre março e maio, segundo duas fontes do mercado asiático.
Uma semana depois, o executivo de uma grande empresa chinesa compradora de soja disse que estava tentando revender carregamentos que deverão ser exportados do Brasil em abril e maio, com a expectativa de que os Estados Unidos receberão os carregamentos.
A demanda chinesa por farelo de soja, usado na alimentação de aves e principal produto do esmagamento da soja, foi afetada por surtos de gripe aviária, que fizeram o apetite pelo ingrediente da ração cair em 20 a 30 por cento no período de fevereiro e março, comparado com meses normais, segundo especialistas.
"Temos tidos notícias dos cancelamentos de soja pela China. Não tem outra razão aparente (para a escala menor). Os volume negociados para o curto prazo realmente diminuíram", disse um corretor de grãos do Paraná.
A China, maior importador global da oleaginosa, respondeu por cerca de 80 por cento das compras de soja do Brasil em janeiro e fevereiro.
Uma analista de pesquisa de uma grande trading operando no Brasil disse que, um ano atrás, seu acompanhamento da escala de navios já incluía agendamentos de toda a soja prevista para embarque em abril e um terço do previsto para maio. Até o momento, os navios do line-up de abril são suficientes para embarcar apenas 80 por cento do volume esperado para o mês.
Para o próximo mês de maio, o interesse por agendamentos está ainda menor: não há nenhuma carga programada atualmente, segundo as agências marítimas, contra mais de 1,2 milhão de toneladas agendadas para maio, um ano atrás.
O ano de 2013 registrou um grande interesse por soja do Brasil, após uma quebra de safra nos Estados Unidos no fim de 2012.
A escala de navios é um importante indicador de como serão os embarques, mas não necessariamente representam o volume que o país exportará no período.
Recoarde Mantido
Na opinião de analistas, ainda é cedo para acreditar que o Brasil não cumprirá as previsões de exportação recorde este ano.
O país deverá colher 85,4 milhões de toneladas da oleaginosa na atual temporada, segundo o Ministério da Agricultura, e exportar 44 milhões de toneladas do grão em 2014, de acordo com a Abiove, associação que reúne as grandes empresas do setor.
Se confirmadas essas projeções, o país colherá 5 por cento mais que na safra passada e exportará 3 por cento mais.
Pereira, da FNP, aposta em um escalonamento dos embarques ao longo do ano.
Ele lembra que o mercado aguarda uma grande colheita da oleaginosa nos Estados Unidos no segundo semestre, mas que os resultados da safra norte-americana ainda são incertos (já que o plantio ainda nem começou) e os estoques naquele país estão muito baixos.
"A soja dos EUA é só uma promessa. Por enquanto, só a do Brasil e a da Argentina é garantida. Não há porque o fluxo de embarques ceder demais", afirmou.