O presidente do Equador, Rafael Correa: governo planeja pedir empréstimos ao Brasil, à França e à Rússia no ano que vem (Meridith Kohut/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2013 às 22h39.
Quito - A necessidade mais intensa de financiamento do Equador está levando o presidente Rafael Correa a lugares mais distantes para solucionar um déficit que deverá atingir um recorde de US$ 7,58 bilhões no ano que vem, em um momento em que os gastos públicos sobem e os preços do petróleo do país, que faz parte da OPEP, despencam.
O governo planeja pedir empréstimos ao Brasil, à França e à Rússia no ano que vem e continuará dependendo da China para ajudar a levantar US$ 5,76 bilhões fora do país andino, disse o Ministro das Finanças, Fausto Herrera, neste mês. O Equador pode também tentar vender bônus no exterior pela primeira vez desde a moratória de uma dívida de US$ 3,2 bilhões cinco anos atrás, disse ele em 5 de novembro. Os custos de empréstimo do país são os mais altos na América do Sul depois da Venezuela e da Argentina, mostram dados compilados pela Bloomberg.
O déficit orçamentário projetado do Equador, de cerca de 5 por cento do PIB, é quase o dobro da média mundial, segundo dados compilados pela Bloomberg. Embora no passado o Equador tenha dependido de empréstimos chineses e de bancos multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, para financiar investimentos, o déficit de um nível sem precedentes do ano que vem, somado a uma queda de 17 por cento no preço do petróleo em relação à alta de setembro, provavelmente fará com que Correa reduza o orçamento, disse Walter Spurrier, diretor da empresa de pesquisas econômicas Grupo Spurrier.
“Não parece que eles conseguirão o montante de crédito externo que orçaram”, disse Spurrier, em entrevista por telefone, de Guayaquil, Equador. “Eles terão que reduzir investimentos”.
Uma opção
O Ministério das Finanças assinou acordos de crédito no valor de US$ 2,6 bilhões para o ano que vem e está negociando o restante do financiamento, disse um funcionário do ministério que pediu não ser identificado porque as conversações ainda não são públicas. O governo analisará uma venda internacional de bônus apenas se as condições forem boas, disse Herrera a repórteres, em 5 de novembro, em Quito.
O governo planeja vender cerca de US$ 1,81 bilhão de notas em mercados locais no ano que vem, a maioria para bancos estatais, disse Herrera. Ele não forneceu detalhes a respeito dos empréstimos pedidos ao Brasil, à China, à França e à Rússia, e não respondeu a um pedido de comentário.
O déficit orçamentário do país sul-americano subirá para US$ 4,94 bilhões no ano que vem, contra uma previsão de US$ 3 bilhões a US$ 3,5 bilhões neste ano, segundo Herrera.
Correa enviou à China o Ministro das Relações Exteriores, Ricardo Patiño, para promover investimentos e negócios com o Equador. O país asiático, que emprestou ao Equador em torno de US$ 10,8 bilhões para ajudar a cobrir déficits que mais que quadruplicaram desde a moratória, concordou em fornecer um crédito de US$ 1,2 bilhão, em agosto, para cobrir o déficit relativo aos gastos deste ano e emprestará ao Equador US$ 400 milhões em 2014 e 2015 para ajudar a financiar os orçamentos destes anos, segundo o Ministério das Finanças.
O Brasil emprestou ao Equador cerca de US$ 230 milhões em 2012 e 2013 para uma usina hidrelétrica e projetos de irrigação e controle de enchentes, disse Felipe Lemos, adido comercial do Brasil em Quito, em entrevista por telefone em 25 de novembro. Embora novos empréstimos ligados a projetos específicos com empresas brasileiras sejam possíveis no ano que vem, nada concreto foi resolvido, disse ele.
Preços do petróleo
O déficit orçamentário inchou depois que os preços do petróleo blend do país atingiram seu mais baixo preço médio em dois anos e dados do Banco Central mostram que o crescimento das fábricas, das redes de varejo e da construção está desacelerando. Novas quedas no preço do petróleo, o produto mais exportado pelo país, poderão forçar o governo a reduzir gastos, o que desaceleraria o crescimento econômico, disse Michael Henderson, economista da Capital Economics.
“Ainda há uma porção de perguntas sem resposta”, disse Henderson. “Eu acho que eles terão dificuldades”.