A cúpula Kim-Trump acontecerá no dia 12 de junho em Singapura (REUTERS/KCNA handout via Reuters/File Photo & REUTERS/Lucas Jackson/File Photo/Reuters)
AFP
Publicado em 7 de junho de 2018 às 15h44.
Costureiras norte-coreanas trabalham em um ateliê aberto recentemente no nordeste da China, uma região fronteiriça com a Coreia do Norte onde empresas locais avaliam cada detalhe da cúpula entre Kim Jong-un e Donald Trump na esperança de obter benefícios para a economia local.
Em Dandong, as máquinas de costura dessa fábrica têxtil ficaram paradas durante meses. Resultado: as funcionárias foram forçadas a voltar para seu país, assim como outras centenas de trabalhadores, após a aplicação das sanções da ONU.
Cidade chinesa de 2,4 milhões de habitantes, pela qual transita a maior parte do comércio para a Coreia do Norte, Dandong vive ao ritmo dos sobressaltos geopolíticos.
O espetacular balé diplomático das últimas semanas, pelo qual se viu o líder norte-coreano, Kim Jong-un, tendo reuniões com o presidente sul-coreano e com o chefe de Estado chinês, Xi Jinping, melhorou o clima.
Embora a China ainda não tenha anunciado o alívio das sanções, em Dandong, os turistas curiosos estão de volta, as costureiras norte-coreanas retornaram para seus ateliês, e os comerciantes tentam bolar maneiras de aumentar suas vendas. O setor imobiliário também cresce, como se a cúpula de Singapura entre Kim e Trump fosse o prenúncio de uma abertura econômica na Coreia do Norte.
"A maioria dos compradores são empresários do sul da China, ansiosos para fazer comércio. Em um mês, vendemos tantos apartamentos quanto em um ano inteiro", diz o agente imobiliário Yue Yue, que oferece imóveis perto de Yalu, o rio que separa ambos os países.
No posto fronteiriço, veem-se de novo dezenas de norte-coreanos - que se distinguem pelos retratos de dirigentes do regime que levam no peito -, esperando o ônibus diário das duas da tarde para voltar para casa com grandes pacotes.
Na direção contrária, Liu, um turista chinês, acaba de visitar a Coreia do Norte durante dois dias com sete amigos e está impressionado com o quão "pouco desenvolvido" o país vizinho está.
Os negócios também estão sendo retomados nos restaurantes coreanos. O "Pyongyang" propõe de novo apresentações de música e dança com trajes típicos.
O estabelecimento voltou a abrir em março, quando Kim Jong-un visitava Pequim pela primeira vez, disseram garçonetes ouvidas pela AFP. Ao redor das mesas, clientes chineses e norte-coreanos falam de negócios.
"Fechamos nosso sítio de testes nucleares. Isso mostra nosso amor pela paz!", diz Kim, um comerciante norte-coreano abordado pela AFP.
"Esperamos um bom resultado das negociações", completou.
Até o ano passado, o restaurante pertencia à empresária chinesa Ma Xiaohong e à Korea National Insurance Corporation, ambas afetadas pelas sanções americanas.
Os capitais da empresa foram depois transferidos para um albergue local, cujo proprietário, atualmente na Coreia do Norte, não respondeu ao contato da AFP.
Segundo um funcionário, é "uma forma de disfarce": depois das sanções da ONU, a China exigiu em janeiro o fechamento das coempresas norte-coreanas no país.
Principal aliado do regime de Kim Jong-un, a China representa o essencial do comércio exterior norte-coreano.
Mas as sanções, que proíbem as exportações de muitos bens norte-coreanos, provocaram uma dramática queda das trocas bilaterais de 59% entre janeiro e abril e forçaram muitas empresas a fechar.
Segundo dois negociantes locais, entre 400 e 500 de seus concorrentes cessaram sua atividade. No caso dos que sobreviveram, o volume despencou, e os preços aumentaram.
Um empresário que apostou nos produtos têxteis por serem mais fáceis de trasladar avaliou que "as sanções locais de Trump causaram muito dano".