Economia

Entre discurso truculento e reformas, para onde vai a economia em 2020?

Uma dificuldade que marcou o governo em 2019 é a dicotomia entre um projeto liberal com discursos truculentos que são uma constante fonte de instabilidade

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro: nesta semana, a instabilidade veio de dentro do próprio ministério da Economia (Marcos Corrêa/PR/Reprodução)

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro: nesta semana, a instabilidade veio de dentro do próprio ministério da Economia (Marcos Corrêa/PR/Reprodução)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2019 às 06h32.

Última atualização em 27 de novembro de 2019 às 10h13.

São Paulo — No vaivém diário sobre as perspectivas para a economia brasileira em 2020, qual será o humor desta quarta-feira? Ontem, o Ibovespa caiu 1,2% e o dólar bateu novo recorde, de 4,24 reais, após o ministro Paulo Guedes ter falado sobre o novo normal de um câmbio desvalorizado e ainda ter dado declarações normalizando um possível AI-5. O ministro voltou atrás, mas suas falas jogaram luz para dificuldades de fundo da economia brasileira.

Uma delas é a possibilidade de o câmbio valorizado impulsionar um aumento de juros, num ciclo vicioso que tem como base a claudicante recuperação da economia. Na falta de confiança de longo prazo no país, investidores seguem mirando o Brasil como destino de investimentos especulativos, que tendem a cair em períodos de juros baixos como o atual.

A saída de recursos, por sua vez, impulsiona o dólar, que pode vir a jogar para cima os juros. A curva de juros futuros já mostra uma Selic média de 5,3% no último trimestre de 2020, acima do patamar atual, de 5%, e também dos 4,50% esperado pelo mercado para o fim de 2019 e de 2020. A próxima reunião do Copom, o comitê de política monetária, termina dia 11 de dezembro.

Outra dificuldade que marcou o governo em 2019 é a dicotomia entre um projeto liberal de reformas com discursos truculentos que são uma constante fonte de instabilidade. Nesta semana, a instabilidade veio de dentro do próprio ministério da Economia, nublando as análises sobre o país. “É um governo que busca o conflito à conciliação e à tranquilidade”, diz Sergio Vale, economista chefe da consultoria MB Associados. “O foco deste segundo semestre deveria ser a reforma tributária. Mas por uma escolha equivocada pela velha CPMF perdemos tempo e agora em 2020 podemos ver um enfraquecimento político e o mundo potencialmente em crise”.

Segundo Vale, ainda são positivos pelas reformas que foram feitas, sobretudo a da Previdência. Na semana passada, cinco grandes bancos divulgaram relatórios otimistas com o desempenho da economia brasileira para 2020, que deve impulsionar o índice Ibovespa. Segundo o BTG Pactual, a taxa de juros real em 3% e um crescimento do PIB em 2% devem levar o Ibovespa a crescer 23%, para 131.000 pontos ao final de 2020. Mas o banco chegou a prever o Ibovespa em 197.000 pontos num cenário mais otimista em que o PIB avança 3%.

Para isso, tudo que dar certo para o Brasil. A começar, por exemplo, com o ministro da Economia falando menos de ditadura e mais reforma tributária, e com o presidente mais preocupado em reformar a Economia do que em fundar seu próprio partido, dedicado aos “bons costumes”.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraExame HojeGoverno Bolsonaro

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo