(Kevin Lamarque/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de maio de 2022 às 11h28.
"O Fed elevou suas taxas em meio ponto percentual". O anúncio provavelmente pareceu vago e distante para uma parte do público em geral. No entanto, esta decisão do Federal Reserve dos Estados Unidos tem consequências para todos os setores da economia mundial.
O "Fed", o banco central dos Estados Unidos, não é o único a tomar tal medida. Os bancos centrais do Reino Unido, Canadá e Polônia, para citar alguns exemplos, mudaram sua política monetária para combater a inflação crescente.
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Por enquanto, o Banco Central Europeu (BCE) adiou esta decisão, apesar de já ter começado a retirar o seu apoio à economia.
Essa mudança marca o fim da era do dinheiro grátis ou quase grátis, após anos de taxas de juros muito baixas que permitiram que Estados, empresas e famílias tomassem empréstimos baratos.
As taxas de juros são os principais instrumentos dos bancos centrais. São taxas aplicadas a depósitos ou empréstimos de bancos comerciais.
"Indiretamente, eles baixam ou aumentam as taxas que os bancos vão cobrar de seus clientes", explica Éric Dor, diretor de estudos econômicos do IESEG School of Management.
Também influenciam as taxas do mercado de títulos: as dos Estados, que têm impacto nas taxas de juros das empresas, dispararam. Por exemplo, a taxa do título do Tesouro dos EUA para 10 anos dobrou em cinco meses e atualmente é de 3%. A da França passou de zero para 1,5% no mesmo período.
Embora o BCE ainda não tenha dado o passo de um aumento, "as taxas de longo prazo sobem na Europa porque os mercados já antecipam" que isso aconteça, continua Dor.
"Os bancos centrais aumentam suas taxas quando querem combater uma inflação excessiva devido a uma demanda muito alta", diz esse especialista.
Atualmente, as empresas elevam seus preços para compensar as dificuldades de abastecimento e o aumento de algumas matérias-primas.
Por sua vez, as famílias que pouparam durante a pandemia de covid-19 podem gastar mais, fazendo com que os preços subam.
É difícil prever até quando o aumento das taxas de juro terá efeito no consumo, mas o poder de compra das famílias "já foi reduzido com a inflação e a subida das taxas do crédito ao consumo vai travar os seus gastos", antecipa Maximilien Monot, gestor de fundos da Monocle AM.
A situação também mudará para os empréstimos imobiliários. As taxas já começaram a subir nos Estados Unidos, impulsionadas pela forte demanda de pessoas físicas e dificuldades das construtoras em concluir seus projetos devido a problemas de abastecimento global.
Se contrair dívidas não for mais grátis, as empresas terão que pensar duas vezes antes de fazê-lo. Inicialmente, o impacto nas contas será sentido no momento do refinanciamento das dívidas contratadas à taxa zero.
Para novos empréstimos, a empresa deverá apresentar um projeto com maior nível de rentabilidade para garantir sua capacidade de pagamento. Bancos e investidores serão mais exigentes antes de fornecer seu apoio financeiro.
De forma mecânica, "os investimentos e a inovação vão desacelerar pela capacidade de endividamento", alerta Maximilien Monot.
No entanto, não há muita preocupação no curto prazo, pois esses efeitos serão sentidos nas empresas dentro de um ano.
Entre uma queda no consumo - que vai diminuir as vendas das empresas -, investimentos reduzidos, inflação ainda muito alta e empréstimos menos acessíveis para Estados e empresas, Éric Dor acredita que "o risco de recessão é forte".
É o fim do "custe o que custar" dos Estados, já que agora ajudar as empresas custará muito mais, é um freio a mais e pode levar à falência das "empresas zumbis" que vivem da perfusão há anos.
Os mercados financeiros já estão mostrando sinais de medo de uma onda de inadimplência corporativa.