A maioria dos entrevistados, 73,2%, tem dívidas atreladas ao cartão de crédito, revela a pesquisa (Wilson Dias/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de agosto de 2018 às 17h44.
São Paulo - O nível de consumidores endividados voltou a crescer em julho em São Paulo, interrompendo uma série de três quedas consecutivas. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), a taxa de famílias com dívidas cresceu para 51,2% no sétimo mês do ano após 49,4% em junho, conforme a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O levantamento, antecipado pelo Broadcast mostra que são quase dois milhões de consumidores que não conseguiram honrar seus compromissos financeiros. Ou seja, quase a metade do total de 3,9 milhões de famílias da capital paulista.
A maioria dos entrevistados, 73,2%, tem dívidas atreladas ao cartão de crédito, revela a pesquisa. Contudo, a FecomercioSP pondera que o resultado não preocupa, pois está dentro do nível médio registrado desde o início do ano. Em seguida, aparecem os endividados com carnês (13,9%), aqueles com financiamento de automóvel(12,8%) e, por fim, as dívidas não pagas com crédito pessoal e financiamento de casa, ambas em 10,8%.
Já a taxa de inadimplentes, ou seja, de consumidores que atrasaram o pagamento, avançou de 19,2% em junho para 19,6% em julho. Em termos absolutos, trata-se de 764 mil famílias nesta situação, 64 mil a mais do que há um ano. Conforme a FecomercioSP, já são cinco meses em que o nível permanece "elevado": acima dos 19% e superior ao visto em julho de 2017 (18,1%).
Quase a metade (49,1%) do perfil das dívidas atrasadas é de médio prazo, ou seja, acima de 90 dias. O restante foi dividido entre até um mês (25,8%) e entre um mês e três meses (23,7%). "Pouco se alterou em relação há um ano, mas o que mais mudou em pontos porcentuais foi o quadro do médio prazo aumentando dos 47,1% para os atuais 49,1%. Apesar da elevação, não preocupa, pois já houve patamares maiores ao longo do último ano", avalia a federação em nota.
Do total de famílias, 8,5% disseram que não terão condições de pagar a dívida em atraso no próximo mês, o que representa 331 mil famílias com a situação mais delicada. Há um ano, essa taxa estava em 7,8%, o que em termos absolutos significa aumento de 29 mil famílias.
De acordo com a pesquisa, o tempo de comprometimento com dívida está, em média, em 7,4 meses, o que não representa mudança significativa na comparação mensal e anual, cita. Cerca de 36% estão comprometidos com mais de um ano de dívida, seguido de 22,1% com até três meses, 21,7% de três a seis meses e 18,1% de seis meses a um ano. A parcela da renda comprometida com a dívida está próxima dos 30%.
O levantamento mostra ainda que, por análise de faixa de renda, houve crescimento da taxa de endividamento para ambas as classes. A mais acentuada, no entanto, foi do grupo com renda superior a 10 salários mínimos, que passou de 35,5% em junho para 40,6% em julho. Para a classe de renda inferior a 10 salários mínimos, atingiu 54,8%, ou 0,6 ponto porcentual a mais do que o registrado no mês anterior.
Em relação à inadimplência, a situação ficou praticamente igual à registrada em junho. O nível de inadimplentes com renda abaixo a 10 salários mínimos ficou em 24,8%, ou 0,3 ponto ante junho, e 7,4% (estabilidade) para as famílias com renda mais elevada.
"Basicamente, a pesquisa de julho mostra manutenção da taxa de inadimplência em patamar historicamente elevado, ao mesmo tempo em que o endividamento está abaixo da média vista no primeiro semestre deste ano", avalia a entidade. "Isso indica o contínuo receio das famílias paulistanas em comprometer sua renda com dívida, visto que vem crescendo o risco de perder seu emprego, e também a dificuldade em acertar as contas por parte das famílias inadimplentes, principalmente, as de renda mais baixa", complementa a nota.
De acordo com a FecomercioSP, o crescimento das vendas do varejo deve diminuir neste segundo semestre, em razão da dificuldade dos consumidores em quitar dívidas e ainda por causa da redução da confiança e na intenção de consumo das famílias.
Para a entidade, enquanto não houver melhora significativa e constante no mercado de trabalho, a situação tende a permanecer difícil para as famílias e para o varejo.