Operação Lava Jato: empresas brasileiras, mesmo aquelas não envolvidas diretamente na Lava Jato, têm dificuldades para se financiar (Divulgação / Polícia Federal)
Da Redação
Publicado em 2 de fevereiro de 2015 às 09h31.
Brasília - Com as portas fechadas no exterior por causa das incertezas em torno dos desdobramentos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, as empresas brasileiras pressionam o Tesouro Nacional a voltar o mais rápido possível ao mercado internacional com uma nova captação de bônus da República, o que abriria caminho ao setor privado.
O diagnóstico que chegou ao governo é o de que as empresas brasileiras, mesmo aquelas não envolvidas diretamente na Lava Jato, têm dificuldades para se financiar porque o "cenário Brasil" acabou se misturando com o pessimismo em torno dos rumos das investigações. Há risco de contaminação de outros segmentos importantes da economia, como o setor elétrico.
A preferência, segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, é de que o governo faça a primeira captação do ano em bônus da República atrelados a euros para aproveitar a expectativa de maior liquidez nos mercados com o programa de estímulos monetários do Banco Central Europeu (BCE).
Na semana passada, o BCE anunciou a injeção de 1,1 trilhão de euros até 2016 para tentar tirar a zona do euro da estagnação. Mas o Tesouro poderá optar em fazer a captação em dólar, mercado mais "maduro", de rápido acesso e demanda garantida.
Devido à importância dessa primeira captação, o Tesouro não poderá errar na melhor escolha para ter um êxito na emissão. A avaliação dentro e fora do governo é de que há demanda dos investidores estrangeiros pelos ativos brasileiros não só papéis, mas também na compra de participações (private equity). Os primeiros meses de 2015 são tradicionalmente uma boa de oportunidade para as empresas se financiarem, o que não tem ocorrido neste ano.
Abre-alas
Nos últimos anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Petrobrás aproveitaram para captar no exterior, o que não ocorreu agora. Mesmo em dificuldades, a Petrobrás vai precisar, em algum momento, vender ativos e também acessar o mercado externo para se financiar, informam fontes da área econômica.
Uma captação bem-sucedida do Tesouro funcionaria com um "abre-alas" para as empresas. A taxa de retorno do investidor paga pelo Tesouro serve de referência nas emissões privadas. Uma emissão soberana, disse uma fonte, também pode ter um papel de "desanuviador" do cenário, principalmente neste momento em que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem conseguido uma resposta positiva dos investidores ao seu plano de ajuste fiscal.
Eles já começam a sinalizar mais otimismo e espera-se um retorno desses investidores também para outros ativos, como participações em empreendimentos de concessões já em andamento, como aeroportos.
A área econômica do governo espera que o cenário de maior rigor fiscal contribua para um aumento da demanda dos investidores estrangeiros também por papéis da dívida interna com prazo de vencimentos mais longos, o que favorece a queda das taxas. Os juros elevados no Brasil são um atrativo maior para os ativos brasileiros.
Os efeitos positivos do cenário de melhoria das contas públicas e aumento do esforço fiscal já entraram na estratégia de administração da dívida pública, mas ainda não será suficiente para garantir uma melhoria mais rápida da dívida pública em 2015. Se, por um lado o movimento fiscal do governo, com medidas fiscais duras, aumenta a confiança dos investidores, por outro o processo de alta da Selic impõe um custo maior para o governo, que pode ser compensado com melhorias no alongamento dos prazos - indicador que poderá apresentar resultados mais favoráveis.
Novos empréstimos do Tesouro ao BNDES e outros bancos públicos, que afetaram negativamente a dívida nos últimos seis anos, também ficarão fora da conta. Na estratégia para 2015, que será divulgada nos próximos dias no Plano Anual de Financiamento (PAF) - documento que traz metas para os principais indicadores da dívida pública -, o Tesouro continuará com uma política gradual de avanço do perfil da dívida e alongamento dos prazos, mas vai poder estancar o risco de deterioração do quadro ruim que se formou com a perda de credibilidade da política fiscal.
Apesar do rombo das contas públicas em 2014, o Ministério da Fazenda avalia que conseguirá barrar o risco de rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de classificação de risco com a evolução do ajuste fiscal nos próximos meses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.