A maconha já foi legalizada no Canadá e em 10 estados americanos (OpenRangeStock/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de dezembro de 2018 às 11h07.
Se 2018 foi o ano da cannabis canadense, 2019 será a vez da maconha dos EUA ficar no centro das atenções.
Desde que o Canadá legalizou o uso recreativo da maconha em outubro, o interesse dos investidores tem se deslocado rapidamente para o sul da fronteira, na expectativa de que não vai demorar muito para que os EUA sigam pelo mesmo caminho. Atualmente, o uso recreativo da maconha está legalizado em 10 estados americanos, além de Washington D.C., mas continua proibido pela lei federal.
"Os investidores estão mais concentrados em imaginar as possibilidades nos EUA", disse Alfred Avanessy, diretor administrativo de banco de investimento da Cormark Securities, cuja maior fonte de negócios no Canadá é a maconha. "Os EUA estão alguns anos atrás de nós em termos regulatórios e também são, por definição, dez vezes maiores do que nós."
Estima-se que os gastos do consumidor com maconha legalizada nos EUA cheguem a US$ 20,9 bilhões até 2021, contra US$ 4,5 bilhões no Canadá, segundo um relatório de junho da Arcview Market Research e da BDS Analytics.
Financiamento
Isso já está se refletindo nos dados de financiamento da Canadian Securities Exchange, a única bolsa de valores desses dois países que listará empresas de cannabis com operações nos EUA.
Nos 10 primeiros meses do ano, os emissores de cannabis com sede nos EUA levantaram 1,5 bilhão de dólares canadenses (US$ 1,1 bilhão) na CSE, o equivalente a cerca de 60 por cento do total arrecadado por todas as empresas de maconha, de acordo com dados fornecidos pela bolsa. Em comparação, houve uma oferta de cannabis dos EUA na CSE em 2017, que captou 145.000 dólares canadenses.
A tendência só acelerou desde outubro, com listagens notáveis de Acreage Holdings, Harvest Health & Recreation, MJardin Group e Cresco Labs - e muito mais está por vir.
"Temos aplicações em mãos de vários emissores dos EUA de porte significativo e temos conversado com várias pessoas que ainda não têm aplicações, mas é quase certo que elas vão bater em nossa porta em algum momento do primeiro ou segundo trimestre do próximo ano", disse Richard Carleton, CEO da CSE.
Os emissores dos EUA também oferecem uma história mais atraente para os investidores, chegando ao mercado com "um histórico operacional significativo, receita em vigor e um grau significativamente mais alto de maturidade do que o que vimos com os produtores canadenses no passado", disse Carleton.
O sentimento dos investidores é que a história de crescimento canadense está se estabilizando em meio à escassez de oferta e aos resultados decepcionantes, enquanto os EUA estão acelerando à medida que mais estados legalizam a erva e o governo federal mostra crescente aceitação da cannabis, incluindo a legalização do cânhamo e de seus extratos na lei agrícola. O ETF Horizons Marijuana Life Sciences Index perdeu cerca de 38 por cento desde o dia anterior à legalização da maconha no Canadá.