Economia

Empresas brasileiras têm risco de piora de perfil de dívida

Ano de 2015 promete ser de decisões difíceis para empresas brasileiras de vários setores


	Empresas brasileiras: meio corporativo começa a sentir os efeitos da alta conjunta do juro básico do país e do dólar contra o real
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Empresas brasileiras: meio corporativo começa a sentir os efeitos da alta conjunta do juro básico do país e do dólar contra o real (.)

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Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2014 às 09h02.

São Paulo - O ano de 2015 promete ser de decisões difíceis para empresas brasileiras de vários setores, enquanto procuram contornar a piora do perfil de endividamento com uma série de ferramentas que incluem repactuação de limites de dívida.

Após anos seguidos de baixo crescimento das receitas, agora o meio corporativo começa a sentir os efeitos da alta conjunta do juro básico do país e do dólar contra o real, os dois principais referenciais de correção de seus passivos.

O resultado é o aumento da relação dívida/receita ou dívida/Ebitda, ou lucro operacional antes de impostos, juros, depreciação e amortização. Um desdobramento desse quadro é a piora na classificação de risco de crédito, o que agrava as condições das empresas para tomar recursos no mercado.

Em 2014 até agora, a agência de classificação Fitch cortou os ratings de 15 empresas que avalia no Brasil, ante apenas quatro elevações de nota. Trinta e sete companhias estão com o rating principal em perspectiva ou observação negativa, contra apenas nove na direção positiva.

"Vai ser um ano bastante desafiador para as companhias, repetindo a grande movimentação negativa de ratings que já aconteceu em 2014", disse o diretor sênior da Fitch para avaliação de empresas, Mauro Storino.

Os casos mais sérios são de empresas elétricas, de commodities e de construção pesada que, além do ambiente global mais adverso, também enfrentam fatores pontuais bastante negativos.

Outra consequências desse cenário é que algumas estão perto de romper limites de endividamento que prometeram obedecer quando venderam títulos a investidores, os chamados covenants. Para evitar punições contratuais, as companhias estão buscando alternativas.

Uma delas é repactuação dos covenants, mecanismo em que o detentor de um bônus ou de uma debênture aceita receber uma espécie de prêmio se concordar com limites de dívida menos apertados da emissora.

Esse caminho já tem sido trilhado. Nesta quinta-feira, por exemplo, a Celulose Irani convocou debenturistas para ser liberada do cumprimento neste ano de cláusula de relação de dívida líquida sobre Ebitda.

Em novembro, a Cemig aprovou ultrapassar o limite de covenants financeiros no estatuto. Semanas antes, a Light havia aprovado elevar o limite dos convenants até 2018. Mais cedo neste ano Iguatemi, Triunfo recorreram à repactuação de covenants com detentores de suas debêntures.

Votorantim Cimentos, Gol e JBS recorreram a um coquetel que incluiu recompra de papéis e proposta de repactuação de covenants. E a Sabesp disse recentemente que monitora a situação de seus covenants para impedir o descumprimento de níveis acertados com credores.

Muitas outras farão o mesmo nos próximos meses, à medida que seus limites de endividamento se aproximam rapidamente, disse à Reuters o presidente-executivo da consultoria RiskOffice, Alberto Jacobsen.

"Não ficaria surpreso se houvesse uns 20 casos em 2015", disse.

Jacobsen inclui na lista empresas ligadas ao mercado de commodities como petróleo e minério de ferro, cujas cotações vêm em queda livre nos mercados internacionais.

No caso da petroleira, as recentes alegações de corrupção também vão pesar não só sobre a companhia, mas sobre todas as grandes construtoras pesadas que a atendem, disse o diretor sênior da Fitch para avaliação de empresas Mauro Storino.

No mês passado, a Fitch colocou as notas de risco de crédito de todas as empresas de construção pesada do país em observação negativa, citando as repercussões da operação da Polícia Federal que investiga denúncias de corrupção na Petrobras.

Outros setores também vistos com atenção por especialistas são o sucroalcooleiro, que há anos enfrenta um cenário de preços baixos do açúcar e do etanol.

A posição mais fragilizada das companhias é um dos fatores que analistas de mercado vêm prestando mais atenção ao definirem recomendação de investimento em ações de empresas nacionais, disse o diretor corresponsável pela área de renda variável para a América Latina do Credit Suisse Emerson Leite.

Segundo o executivo, esse cenário é especialmente delicado considerando as margens de lucro das empresas listadas na Bovespa, que praticamente caíram à metade nos últimos cinco anos, um processo que ainda está em andamento.

"Pelo menos para o primeiro semestre do ano que vem o ambiente seguirá difícil para elas no mercado de dívida", disse.

Para os especialistas, no entanto, de forma geral as empresas já vêm sendo mais cautelosas com seus planos de investimentos, o que evitou que o grau de alavancagem subisse ainda mais. Algumas, como em casos citados acima, inclusive acumularam caixa e estão usando parte dele justamente para recomprar parte das dívidas no mercado.

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