Campos Neto: "Vemos os bancos centrais subindo juros, mas em vários países do mundo o fiscal não acompanha o mesmo esforço" (Lula Marques/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 22 de novembro de 2023 às 11h20.
Última atualização em 22 de novembro de 2023 às 12h01.
Os países emergentes estão desenvolvendo um processo mais saudável e sustentável de queda dos juros, enquanto no mundo desenvolvido a expectativa é de manutenção dos juros altos por mais tempo, reiterou nesta quarta-feira, 22, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Ele citou o caso da Austrália, em que o mercado ainda espera elevação dos juros, mas frisou que em grande parte do mundo desenvolvido o discurso é de manutenção dos juros elevados, a exemplo de Estados Unidos e União Europeia.
Sobre o caso americano, Campos Neto afirmou que os juros nos Estados Unidos subiram mais do que qualquer um poderia imaginar. Ele argumentou que há dois fatores que podem ser levantados para responder o porquê desse movimento: a expectativa de uma inflação mais alta e o aumento do prêmio de risco do país.
O problema fiscal nos Estados Unidos, com aumento da dívida americana, foi alertado recentemente pela Fitch e pela Moodys, frisou o banqueiro central. "O prêmio de risco subiu. Tem impacto do gasto que foi feito."
Campos Neto defendeu, no início de sua fala, que houve uma coordenação menor dos países entre a política monetária e fiscal na saída da pandemia, em comparação à entrada.
"Vemos os bancos centrais subindo juros, mas em vários países do mundo o fiscal não acompanha o mesmo esforço", afirmou o presidente do BC, que participa nesta quarta-feira de café da manhã com a Frente Parlamentar pelo Livre Mercado, no Senado Federal.
Ele acrescentou que há dificuldade para reverter programas criados na pandemia.
O banqueiro central reiterou que houve um endividamento grande dos países durante o período de crise sanitária e que agora há uma dívida global muito mais alta.
Campos Neto alertou que, com as taxas de juro mais altas também se tornou mais caro rolar a dívida, o que implica falta de liquidez. "Esse é um processo cumulativo. À medida que os meses vão passando e o custo de dívida subindo no mundo desenvolvido, vai tirando liquidez do mundo privado e emergente."
O recuo dos preços de alimentos foi um dos principais elementos para o processo de desinflação global, mas recentemente houve uma estabilização, reiterou Campos Neto, ao listar os motivos porque a segunda parte do processo desinflacionário tem sido lenta e difícil.
Ainda sobre os alimentos, Campos Neto afirmou que ainda não é possível atrelar de forma empírica o aumento da incidência de desastres naturais à elevação dos preços dessa categoria, mas que já é possível estabelecer uma correlação com a volatilidade dos preços. "Olhando para a frente, como vemos o aumento dos desastres em uma curva subindo bastante forte, a volatilidade no preço dos alimentos também será forte", projetou.
Sobre a dificuldade atrelada à segunda parte do processo de desinflação, o presidente da autarquia também comentou sobre a incerteza recente ao redor do petróleo. Campos Neto frisou que o preço está "resistindo bem" aos conflitos no Oriente Médio, mas que há muitas variáveis. "Existe o tema se será negociada a paz ou se o Irã vai entrar na guerra", exemplificou. "Não tem um movimento fácil de preço de petróleo à frente."
O presidente do BC reiterou ainda que existiam expectativas iniciais de que a desinflação seria consolidada pelo mercado de trabalho ou pelo consumo do excesso de poupança, mas que esses caminhos não estão progredindo como o esperado. "Em quase todos os países, o mercado de trabalho está igual ou mais apertado do que estava antes da pandemia. Se está igual ou mais apertado, não parece que os salários irão cair", pontuou o banqueiro central, que acrescentou que a poupança também está no campo positivo ou neutro em grande parte do mundo.
A fragmentação das cadeias globais também foi listada como um dos vetores que não estão contribuindo com pressão desinflacionária. "O mundo está se reorganizando. O elo asiático quer ter menos dependência dos Estados Unidos e do mundo Ocidental. Vemos isso com queda das importações e do movimento de comércio entre Estados Unidos e China", disse Campos Neto, que ponderou que esse movimento cria um custo para as empresas.
O presidente do BC também repetiu que havia uma percepção de que os juros mais elevados diminuiriam os preços do mercado imobiliário, mas que esse movimento não está se concretizando.