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Da Redação
Publicado em 22 de março de 2012 às 16h55.
Brasília - Em clima amistoso, a presidente Dilma Rousseff dispôs-se nesta quinta-feira a ouvir as queixas de 25 grandes empresários brasileiros em reunião no Palácio do Planalto. O encontro, que durou três horas, também contou com a presença dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel; do secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho; e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Os empresários, evitando o tom de confronto, mantiveram as cobranças de sempre. Pediram medidas para conter a desvalorização do dólar, a redução da carga tributária e melhorias em logística e infraestrutura. O governo respondeu com promessas vagas.
Cordialidade – A presidente Dilma abriu a reunião e, em tom de brincadeira, pediu aos ministros Mantega e Pimentel que falassem por apenas cinco minutos. A intenção dela era dar mais voz aos empresários. Todos eles puderam expor a situação de seus setores e fazer cobranças ao governo federal. Em sua fala, Dilma falou sobre a situação da economia brasileira e, de forma indireta, cobrou mais investimentos do setor privado. O Planalto deverá realizar mais quatro reuniões com empresários neste ano.
Promessas – Uma série de medidas foi aventada pelo Planalto. Além da ampliação da desoneração da folha de pagamento, bastante discutida com sindicatos patronais e de trabalhadores nas últimas semanas, o governo prometeu reduzir outros tributos, sobretudo daqueles que incidem sobre o investimento; diminuir os custos financeiros das empresas; e baixar os preços de energia elétrica com novos leilões no futuro. Os empresários presentes, embora tenham aplaudido o discurso, destacaram a necessidade de ações mais concretas e que efetivamente possam mudar a rotina dos setores – com destaque para os industriais que sofrem com a concorrência dos importados.
O ministro da Fazenda declarou que ao menos dez setores estão otimistas com a promessa de desoneração da folha de pagamentos. Entre eles, Mantega citou o calçadista, o moveleiro, o têxtil e a indústria naval. “Vamos reduzir a alíquota que foi colocada ano passado”, declarou. “Se o empresário exporta 30%, 40% de sua produção, ele vai ter 20% a menos de INSS”, garantiu.
Ele também disse que o Planalto quer reduzir os custos financeiros do empresariado e aumentar o crédito de longo prazo. Segundo ele, o BNDES deve oferecer 150 bilhões de reais em 2012. “Temos trabalhado para reduzir a carga do investimento, que é prioritário para deslanchar a economia do país nos próximos anos”, afirmou Mantega, sem dar maiores detalhes.
Os empresários, por sua vez, pediram a aprovação do projeto de Resolução 72/2010, que uniformiza a alíquota do ICMS interestadual na comercialização de produtos importados. A proposta tramita no Senado.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse que a presidente Dilma sensibilizou-se nesta quinta com as demandas dos empresários. “Hoje a presidente da República se convenceu que há um filho enfermo, que é a indústria da transformação brasileira. E para esse filho ela precisa dar uma atenção especial”, comparou. Skaf exigiu do governo medidas para reduzir o preço da energia elétrica – um conjunto de concessões no setor vence em 2015. Mantega prometeu planejamento para que, nas novas licitações, ocorra redução da tarifas de energia. O ministro afirmou ainda que buscará desindexá-las a partir dos novos contratos.
Investimentos – Diante da cobrança indireta de Dilma por maior empenho na realização de investimentos, os empresários deram uma resposta lacônica. Eles disseram que já estão comprometidos com essa tarefa, pois apostam na manutenção do crescimento da economia brasileira e querem estar preparados para um mercado cada vez mais robusto. Eles esclareceram, inclusive, que seus projetos são de longo prazo e que estão animados com sua execução. A maioria dos presentes falaram em valores de investimentos entre 5 bilhões de reais e 20 bilhões de reais neste ano.
Como vem falando há algumas semanas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou a intenção do governo de ampliar as políticas de desoneração da folha de pagamentos e de abrir espaço, graças ao esforço fiscal, para a redução das taxas de juros. O ministro também prometeu novas reduções de impostos, mas não anunciou nenhum plano concreto para viabilizar a medida.
Câmbio – O Planalto tentou tranquilizar os empresários em um dos itens mais desconfortáveis para a indústria brasileira no momento: a taxa de câmbio. “Continuaremos a fazer politicas de intervenção do câmbio que não permitam que o real se valorize”, disse Mantega. “Estamos privilegiando a exportação no momento em que está todo o mundo desesperado. Na maioria dos casos, há convergência entre o que governo pensa e o que os empresários pensam”, afirmou em coletiva após a reunião.
A empresária Luiza Trajano, presidente da rede varejista Magazine Luiza, disse que seria “prudente” uma redução da carga tributária na linha branca, mas o Planalto declarou que o assunto não está na pauta de discussão neste momento. “Acho prudente, mesmo porque 45% da população de classe média baixa não tem máquina de lavar roupa”, afirmou.
Estiveram no Planalto nesta quinta-feira os empresários Eike Batista, Murilo Ferreira, João Castro Neves, Frederico Curado, Roberto Setúbal, Luiz Trabuco, Lázaro Brandão, Joesley Batista, Marcelo Odebrecht, Luiz Nascimento, Otávio Azevedo, Paulo Skaf, Luiza Trajano, Antônio Carlos da Silva, Josué Gomes, André Esteves, Pedro Passos, Paulo Tigre, Alberto Borges, Amarílio Proença, Carlos Sanchez, Ivo Rosset, Daniel Fefer, Ricardo Steinbruch e José Antonio Martins.