Mercosul: o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Antonio Rivas, e o do Brasil, Ernesto Araujo (Foto/AFP)
AFP
Publicado em 1 de julho de 2020 às 19h45.
Os efeitos da pandemia da covid-19 e o acordo de livre-comércio com a Europa estarão no centro dos debates desta quinta-feira (2), em uma cúpula do Mercosul que pela primeira vez será realizada por teleconferência.
"Os quatro presidentes confirmaram sua presença na cúpula", disse o vice-chanceler paraguaio Didier Olmedo à AFP, em meio a dúvidas sobre a participação do presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro segue ideologicamente o caminho oposto ao do presidente argentino, Alberto Fernández (peronismo), embora diplomatas de ambos os países tenham declarado pragmaticamente que a integração está acima dos governos no poder.
"Os governos passam e o Mercosul permanece", disse o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, na reunião desta quarta-feira do Conselho do Mercado Comum.
O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, ponderou os acordos com a Europa. Para Araújo eles demonstram que o Mercosul está preparado para integrar a grande rede de acordos internacionais de comércio de bens e serviços.
Solá parabenizou o Uruguai, o país que assumirá a presidência pro-tempore do bloco e cujo presidente, Luis Lacalle Pou, também não tem grande afinidade ideológica com o peronismo.
Participarão também os presidentes de países associados ao Mercosul, como Sebastián Piñera, do Chile; Jeanine Añez, da Bolívia, e Iván Duque, da Colômbia, e, como convidado especial, o espanhol Josep Borrell, alto representante de Política Externa da União Europeia.
Entre os temas de fundo, os acordos assinados com a União Europeia e os países do Efta (Acordo Europeu de Comércio Livre) serão trazidos de volta à mesa, além de revisar a maneira como a região enfrenta a pandemia, em meio aos estragos causados pelo coronavírus na América Latina.
Sobre as formas de integração, Solá disse que se associar "não significa ver o mundo da mesma maneira". Buenos Aires reluta em abrir comércio a países que sejam potências exportadoras.
"No que temos que discutir com o mundo, façamos o mais próximo possível. Assim, seremos muito mais fortes e mais respeitados por um mundo que tende a se fechar", disse o ministro das Relações Exteriores da Argentina.
Para Araújo, o Brasil não tem problemas com o conceito de flexibilidade ou em responder aos diferentes interesses e realidades de seus membros.
A flexibilização do Mercosul, que não permite que seus membros façam acordos comerciais sem o consentimento de seus parceiros, é uma questão central na agenda que o Uruguai promoverá no bloco.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil disse que seu governo "quer uma proposta de negociações o mais rápido possível com a América Central e o Caribe e fechar (os acordos) com a Aliança do Pacífico".
Ele também afirmou que o Brasil quer acordos com Canadá, Coreia do Sul, Cingapura e Líbano, além de explorar pactos com a Indonésia e o Vietnã.
Araújo destacou que as oportunidades oferecidas pela nova estrutura da economia mundial que, segundo ele, emergirá com o fim da pandemia devem ser aproveitadas. Ele pede que os parceiros se esforcem para reduzir tarifas.
Araújo também enfatizou o pilar democrático. Criticou o governo venezuelano de Nicolás Maduro - suspenso do bloco desde 2017 - e expressou a necessidade de uma transição democrática no país vizinho, que ponha fim ao que classificou como "tirania".
Ele também lamentou que a Bolívia, em processo de adesão ao Mercosul, não tenho conseguido participar nos trabalhos do bloco no primeiro semestre deste ano.
Os chefes de Estado aprovarão mais de cinquenta regras de natureza comercial e tarifária, disse Olmedo.
Entre as medidas está "uma redução de tarifa devido à pandemia", afirmou o vice-chanceler do Paraguai.
"Cento e cinquenta reuniões técnicas foram realizadas em todos os níveis do Mercosul, apesar das restrições impostas pela pandemia", acrescentou.