Economia

Em plena crise política, mundo árabe compra cada vez mais do Brasil

Segundo Miguel Alaby, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, país deve buscar mercado árabe ainda não abocanhado por chineses

De janeiro a abril, exportações brasileiras ao mundo árabe cresceram 44% (Getty Images)

De janeiro a abril, exportações brasileiras ao mundo árabe cresceram 44% (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2011 às 22h47.

São Paulo - A balança comercial do Brasil com as nações árabes não para de avançar, a despeito das recentes revoltas populares que estão mudando a história da região (que engloba o Norte da África e o Oriente Médio). Entre janeiro e abril de 2011, as exportações nacionais aos vinte países que compõem o bloco – já excluída a Líbia, que deixou a Liga Árabe – somaram 4,085 bilhões de dólares, o que significa uma expansão de 44% em relação ao mesmo período de 2010. As importações também aumentaram, para 2,5 bilhões de dólares, mas a um ritmo menor, com alta de 19% ante o primeiro quadrimestre do ano passado.

Tal desempenho, em pleno período de turbulência política na região, mostra duas facetas emblemáticas do mundo árabe: a manutenção do crescimento econômico e a importância do comércio com o Brasil. Segundo Miguel Alaby, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, o momento é promissor para que o país avance ainda mais, já que muitas nações do Oriente Médio e Norte da África passam por reformas importantes e tendem a sair da crise fortalecidas. Um exemplo seria o Egito. Alimentos e materiais de construção são vistos por Alaby como as principais oportunidades de exportação para empresas nacionais – mesmo diante da forte concorrência chinesa. “Precisamos trabalhar mais essa ideia de que o produto brasileiro é caro e buscar nichos diferentes de mercado”, afirma o secretário.

Dentre os países do mundo árabe, qual oferece as melhores oportunidades de negócio para as empresas brasileiras? Nas relações comerciais com o mundo árabe, não há um país mais oportuno, mas sim setores. Toda a região possui boas relações com o Brasil, mas as exportadoras de alimentos têm, a meu ver, um horizonte mais promissor devido ao aumento da demanda. O setor de construção civil é outro que, já há bastante tempo, é um mercado interessante às empresas brasileiras – tanto que muitas já estão na região desde a década de 1980. Há também bons negócios à vista para a indústria de máquinas e equipamentos, pois os países árabes carecem de tecnologia e guardam um histórico muito positivo de comércio com o Brasil.

Recentemente, as empresas brasileiras têm olhado para nações que historicamente possuíam menor destaque, como Omã e Sudão. Isso representa uma nova onda de países parceiros? Esses países nunca deixaram de ser parceiros. O que acontece é que agora o crescimento está se acelerando. No caso de Omã, a chegada da Vale faz com que outras companhias brasileiras sintam-se compelidas a ir também e comecem a estudar o país. A Embraer, em 2010, vendeu aviões a Omã e outras empresas estão se movimentando. Já no Sudão, a maior usina local de açúcar e etanol foi feita totalmente com máquinas brasileiras. Com a divisão do país em dois prevista para julho, o Brasil poderá expandir ainda mais sua atuação. Um exemplo é o grupo agrícola Pinesso, do Mato Grosso, que está produzindo algodão e soja por lá a um custo muito menor, sem ter de arcar com o ‘custo Brasil’. Nós já fomos ao Sudão oito vezes nos últimos três anos. E só em 2011, os representantes sudaneses vieram três vezes para cá. No caso do Curdistão (região norte do Iraque), o Brasil já exporta carne e frango.

Qual o motivo do interesse dos árabes pelo produto brasileiro? Trata-se, na verdade, de uma questão de vantagem comparativa mesmo, e não política. O Brasil tem alta produtividade, conhece o mundo árabe e há uma grande empatia entre os dois povos. Além disso, o país é muito flexível na hora de negociar, o que faz com que conquiste, muitas vezes, mais espaço que os Estados Unidos e países hegemônicos da Europa. Isso ocorre porque o empresariado brasileiro não impõe seu produto. Ele busca se adaptar às necessidades desses países. Além disso, em um momento de turbulência como esse, as nações árabes tendem a negociar com aqueles que já conhecem e confiam, como o Brasil.

Mas há a concorrência com a China também no mundo árabe. Sim. E também com a Índia, a Turquia, que está bem mais próxima, a Tailândia, a Malásia e o Vietnã. No setor de alimentos, o Brasil segue imbatível. No entanto, deixa a desejar em produtos manufaturados.

O produto brasileiro é caro. Sim, precisamos trabalhar mais essa ideia de que o produto brasileiro é caro e buscar nichos diferentes. Não adianta concorrer com o que a China produz. Há um mercado gigante de cosméticos, por exemplo, que o país pode buscar. Tem também o setor de equipamentos médicos, onde os brasileiros têm uma tecnologia relativamente boa, a China não concorre e a Europa produz a preços muito altos.

O trabalho da Câmara foi afetado pela ‘primavera árabe’? Não. As viagens continuam, as feiras também. O trabalho, inclusive, aumentou. A busca de informação por parte dos empresários brasileiros e árabes cresceu.

Agora que a Líbia não faz mais parte da Liga Árabe, vocês continuarão acompanhando as movimentações de negócios líbios no país? Não. Não negaremos informações a quem nos procurar, mas não haverá nenhum tipo de envolvimento enquanto a Líbia estiver fora.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaComércio exteriorConsumoDados de BrasilExportaçõesOriente Médio

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron