Economia

Em dia de protestos, premiê da Itália fala em piora da crise

Mario Monti defendeu o pacote de medidas de austeridade um dia antes da eleição parlamentar na Grécia

Mario Monti, premiê italiano, se disse preocupado com as eleições na Grécia (Vincenzo Pinto/AFP)

Mario Monti, premiê italiano, se disse preocupado com as eleições na Grécia (Vincenzo Pinto/AFP)

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Da Redação

Publicado em 18 de junho de 2012 às 07h35.

Milão/Roma - A Itália está novamente flertando com o desastre econômico, disse neste sábado o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, enquanto era realizada em Roma uma enorme manifestação contra as medidas de austeridade, um dia antes da eleição parlamentar na Grécia, a qual ameaça desestabilizar toda a zona do euro.

"Nós já saímos da beira do precipício, mas o buraco agora está aumentando e pode nos engolir. Nós estamos novamente em crise", declarou Monti em uma cerimônia de inauguração perto de Milão.

Monti chegou o poder em novembro, assumindo o lugar do desacreditado primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e aprovou um duro pacote de medidas de austeridade para tentar restabelecer a confiança dos investidores num momento em que o país, mergulhado na recessão, se encontrava à beira de um colapso no estilo grego.

As medidas, incluindo 24 bilhões de euros em novos impostos somente para este ano, levaram à queda do custo das dívidas italianas por um certo período. Mas o pacote de ajuda aos bancos da Espanha e a perspectiva de a Grécia sair do euro fizeram com que os juros dos títulos básicos italianos de 10 anos alcançassem novamente o pico, acima dos 6 por cento nos últimos dias.

Os juros que alcançaram 7 por cento resultaram em pacotes de resgate para Grécia, Portugal e Irlanda.

Enquanto isso, a austeridade combinada com uma reforma no mercado de trabalho, vista como uma ameaça aos trabalhadores de período integral, levou à queda na aprovação do governo de Monti, de 71 por cento, quando assumiu o cargo, para 33 por cento, segundo divulgou o instituto SWG na sexta-feira.

As políticas de Monti vêm sendo o foco de repetidas críticas dos três principais sindicados da Itália, que neste sábado promoveram uma marcha e criticaram o governo em discursos na Praça do Povo, em Roma.


EMPREGOS EM VEZ DE CORTES Os organizadores estimaram em 200 mil o número de participantes da passeata pelo centro de Roma. Eles cantaram e agitaram bandeiras italianas, numa manhã quente e luminosa em Roma.

"Estamos aqui porque o programa do governo está causando o aprofundamento da recessão no nosso país", disse à TV da Reuters a líder do maior sindicato da Itália, Susanna Camusso.

Ela e outros líderes sindicais fizeram um chamado ao governo para que não reduza benefícios sociais para conter o déficit do país e, em vez disso, se concentra na criação de empregos para reduzir a taxa de desemprego, que supera 10 por cento.

"As eleições na Grécia são obviamente uma grande preocupação, mas nós precisamos lembrar que se a Grécia está com problemas é porque a Europa, desde o início, não escolheu políticas sociais como um meio de sair da crise", afirmou.

A passeata em Roma transcorreu sem incidentes, mas um outro grupo mais radical planeja uma marcha em Bolonha neste sábado à tarde, apesar de ter sido proibido pela polícia.

Monti iria discursar em uma conferência no norte da Itália no início da tarde (horário local). Para se contrapor ao descontentamento popular e no meio político, na sexta-feira ele aprovou medidas que chamou de "decreto do crescimento", com o objetivo estimular a economia.

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