Logo do Fórum Econômico Mundial é visto na janela do centro de convenções de Davos, na Suíça (Christian Hartmann/Reuters)
Reuters
Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 09h59.
Davos - Em 2014, Arnold Kamler, presidente-executivo da Kent International, empresa com sede em Nova Jersey, deu um grande passo: voltou a fazer bicicletas nos Estados Unidos 23 anos após levar a produção para a China. Neste ano, ele espera vender meio milhão de bicicletas feitas nos EUA.
Para líderes empresariais e políticos reunidos em Davos, nos Alpes suíços, para o Fórum Econômico Mundial deste ano, a experiência de Kamler --parte de um processo que o Morgan Stanley chegou a classificar como "reindustrialização" dos EUA--- é motivo para certa ansiedade.
Se um misto de automação acelerada e protecionismo comercial está definindo o clima econômico no momento, a globalização pode muito bem estar em declínio, e nações em desenvolvimento que falharam em capitalizar nas últimas duas décadas de integração econômica, em especial na África, podem ter perdido totalmente o momento.
É uma questão de profundas consequências, tanto para economias emergentes que construíram suas fortunas em exportações como para países ricos que esperam que uma retomada de produção industrial doméstica vá satisfazer descontentes trabalhadores e reacender o estagnado crescimento salarial.
O comércio global provavelmente cresceu no último ano a um ritmo de apenas 1,7 por cento, ficando atrás do crescimento econômico mundial pela primeira vez em 15 anos e pela segunda vez desde 1982, de acordo com a Organização Mundial do Comércio, que espera nova desaceleração em 2017.
Embora haja motivos complexos por trás da desaceleração, é difícil ignorar a crescente popularidade do protecionismo comercial e da antiglobalização. As promessas de campanha do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e os planos por um "grande imposto" sobre produtos importados fazem parte desta categoria.
Mas talvez ainda mais influente seja o processo de automação, digitalização, robótica e inovações como impressoras 3D, que derrubam a maior vantagem competitiva de países de baixa renda.
Isso contribuiu com o retorno de 250 mil empregos de manufatura para os EUA entre 2010 e 2015, de acordo com dados da Reshoring Initiative, um grupo que oferece consultoria a empresas nos EUA.
A fábrica de Kamler, por exemplo, em breve será capaz de produzir bicicletas com apenas 12 funcionários por turno. "A maioria dessas pessoas estará sentada, olhando para telas de computador. A mesma operação na China exigiria 60 pessoas", disse.