Economia

Em 2 anos, China já investiu R$ 60 bilhões nas empresas no Brasil

Os empresários se tornaram os maiores investidores estrangeiros em fusões e aquisições, ultrapassando os americanos

China: para executivos de bancos, o movimento chinês em 2017 será tão ou mais intenso que no ano passado (Will Russell/Getty Images)

China: para executivos de bancos, o movimento chinês em 2017 será tão ou mais intenso que no ano passado (Will Russell/Getty Images)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de setembro de 2017 às 09h39.

São Paulo - De cada R$ 10 que entraram no País para comprar uma empresa ou um ativo nacional nos últimos 30 meses encerrados em junho, R$ 3 vieram da China.

O avanço dos chineses sobre o Brasil nesse período chegou a R$ 60 bilhões e, com um fôlego extra nos últimos meses, eles se tornaram os maiores investidores estrangeiros em fusões e aquisições, ultrapassando os americanos.

No ano passado, os chineses aplicaram R$ 23,96 bilhões na compra de ativos no Brasil, quase 80% a mais que os R$ 13,4 bilhões injetados pelos americanos.

No primeiro semestre de 2017, a tendência se repetiu: R$ 17,8 bilhões dos orientais e R$ 12,3 bilhões dos ocidentais, segundo dados da TTR.

Para executivos de bancos, o movimento chinês em 2017 será tão ou mais intenso que no ano passado. "Nada indica uma diminuição do apetite deles por investimento no Brasil. Eles devem continuar como atores relevantes em 2017 e 2018", afirma Bruno Amaral, sócio do BTG.

"Temos mais consultas (de investidores chineses) neste ano que em 2016", diz o diretor da área de banco de investimentos do Itaú BBA, Roderick Greenlees. O vice-presidente do Santander, Jean Pierre Dupui, conta que, neste ano, o banco está com seis grandes negociações que envolvem chineses, enquanto, em 2016, foram duas.

"Devem ter negócios para acontecer nos setores de comida e bebida, commodities e imobiliário", acrescenta.

Apesar de a maioria das transações fechadas pelos orientais se concentrar em energia - 97% do volume aportado no primeiro semestre de 2017 -, já há indícios de uma diversificação nos segmentos econômicos.

Infraestrutura, por exemplo, é um dos setores que devem voltar a ganhar espaço. Em 2011, 33% dos recursos envolvidos nas operações foram para essa área, mas, depois, esse número recuou e chegou a 2% no ano passado, segundo a A.T. Kearney.

Um exemplo da retomada dos chineses em infraestrutura foi a aquisição de 90% do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), anunciada na semana passada pela estatal China Merchants Port Holding (CMPorts), por R$ 2,9 bilhões.

"Vemos os investimentos chineses acontecendo em ondas. Primeiro, eles entraram em recursos naturais, depois energia e agora infraestrutura, principalmente portos e aeroportos", diz Greenlees.

Segundo o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, os chineses pretendem crescer nos setores financeiro, de saneamento e ainda mais no energético.

"Temos uma empresa que nos pediu para ver a possibilidade de o governo fazer um leilão de energia de lixo." Uma fabricante de cabos para transmissão de energia também analisa o País, diz Tang.

Nova política

Diante do enorme fluxo de capital deixando a China rumo a outros países, o governo chinês divulgou, em agosto, novas diretrizes que desestimulam investimento no exterior.

A medida, entretanto, não deverá causar uma inversão no fluxo de recursos para o Brasil - aportes em setores como infraestrutura e energia continuarão sendo estimulados pelo governo daquele país.

O governo de Xi Jinping já havia anunciado, no fim de 2016, que não incentivaria mais investimentos em alguns segmentos no exterior, o que resultou em uma queda de 44%, para US$ 57,2 bilhões, no volume aportado globalmente pelas empresas do país nos sete primeiros meses de 2017, excluindo o setor financeiro.

Agora, em agosto, o governo especificou que serão desestimulados os investimentos nas áreas imobiliária, hoteleira, cinematográfica, de entretenimento e em equipes esportivas.

Nos últimos anos, os chineses haviam comprado participações em empresas como o Cirque du Soleil, as redes hoteleiras Hilton e Club Med e os times de futebol Atlético de Madrid, Inter de Milão e Milan.

No Brasil, entretanto, quase não foram aplicados recursos nesses segmentos e um indicativo de que os investimentos continuam são as transações de fusões e aquisições realizadas no primeiro semestre de 2017 no País: o volume de capital envolvido nelas representa 74% do total do ano passado.

"O que acontece agora é que o governo chinês quer centralizar os investimento em áreas que considera estratégicas. No Brasil, os aportes tradicionalmente já são nesses setores.

O fluxo (de recursos) deve continuar em energia e óleo e gás, por exemplo", diz Alessandro Zema, responsável pela área de banco de investimento do Morgan Stanley.

Parceiros

O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, reforça que os chineses continuarão no País. "Para infraestrutura, não tem restrição (do governo)", diz.

"O Brasil é um importante parceiro porque fornece produtos estratégicos, como minérios e alimentos, para a China garantir seu crescimento sustentável", acrescenta.

Uma diversificação maior do perfil das empresas adquiridas pelos orientais, como começava a aparecer, porém, pode acabar não ocorrendo por aqui. Pouco mais de um mês antes de o governo chinês anunciar as novas diretrizes, a chinesa Fosun, que tem forte atuação nos setores financeiro e de entretenimento, havia comprado seu primeiro empreendimento imobiliário no Brasil - uma torre corporativa em São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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