Economia

El Niño pode ser nova ameaça para cana e café do Brasil

Apesar dos problemas para cana, café e laranja, fenômeno iria criar o clima perfeito para as próximas colheitas de soja e milho


	Plantação de café: embora a formação do El Niño não seja uma certeza, as empresas e os analistas já estão atentos ao seu potencial impacto sobre o Brasil
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Plantação de café: embora a formação do El Niño não seja uma certeza, as empresas e os analistas já estão atentos ao seu potencial impacto sobre o Brasil (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2014 às 17h34.

São Paulo - O fenômeno climático El Niño pode causar novos problemas para as safras de cana-de-açúcar, café e laranja do Brasil, já prejudicadas pela seca, mas iria criar o clima perfeito para as próximas colheitas de soja e milho.

Os modelos climáticos mostram que as temperaturas da superfície do oceano Pacífico estão subindo, e é cada vez maior a probabilidade de isso resultar nos próximos meses no fenômeno El Niño, que ocorreria pela primeira vez desde 2009.

No passado, o fenômeno trouxe chuva forte em partes da Argentina e regiões ao sul do Brasil, afetadas pelo clima quente e seco no início deste ano.

"Seria por volta de junho o início do El Niño, ou pelo menos temperaturas maiores do que a média em todo o Pacífico equatorial", disse Franco Villela, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (Inmet).

Embora a formação do El Niño não seja uma certeza, as empresas e os analistas já estão atentos ao seu potencial impacto sobre o Brasil, uma superpotência agrícola --o maior exportador de açúcar, café e soja.

"Inicialmente era uma possibilidade, mas agora alguns meteorologistas já estão dizendo que há uma chance de 75 por cento de que o El Niño possa retornar", disse Stefan Uhlenbrock, analista de commodities sênior da F.O. Licht, em um evento em São Paulo na segunda-feira.

Para a área do centro-sul do Brasil, principal produtora de cana, o clima úmido no final da estação de moagem reduziria o teor de açúcar na cana, disse ele.


Maior produtora de açúcar e etanol do mundo, a Raízen também disse na semana passada que a chuva do El Niño seria um risco significativo para a colheita da cana.

"Para cana, café e citricultura, é o pior cenário possível", disse o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Somar Meteorologia, acrescentando que a qualidade, bem como os trabalhos de colheita seriam afetados.

Ainda assim, chuvas "ininterruptas" provocadas pelo El Niño em junho ou julho não seriam de todo ruins para a agricultura no Brasil, e são realmente o ideal para a soja e o milho, disse ele.

Analistas da Thomson Reuters Lanworth em Chicago também afirmaram que as condições do El Niño, de maior precipitação na Argentina e em regiões ao sul do Brasil, durante o final da primavera da América do Sul e o início do verão, "geralmente resultam em perspectivas favoráveis ​​de rendimento para a próxima temporada".

O Brasil está saindo agora do que foi o verão mais quente e mais seco já registrado no Sudeste, região densamente povoada, o que provocou o temor de racionamento de água e de energia em um país onde a maioria da eletricidade vem de hidrelétricas.

A seca provavelmente reduziu em 11 por cento a atual safra de café, de acordo com uma pesquisa da Reuters com analistas, e eliminou 25 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, de acordo com a F.O. Licht.

As condições climáticas devem ser normal ao longo dos próximos três meses do outono na América do Sul, antes de quaisquer possíveis efeitos do El Niño, disse Villela. É possível que ocorra geada no Sul no próximo mês e é esperada precipitação moderada.

"Mesmo com a previsão de chuva normal, não vai ser suficiente para reverter as perdas que vimos durante o verão", disse ele.

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