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Da Redação
Publicado em 18 de março de 2010 às 13h52.
Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sempre tão rápido quando se trata de aplaudir seu próprio governo, não está satisfeito; andou dizendo, na ocasião em que foi prorrogado o prazo de isenção do IPI, que não gosta de reduzir impostos para estimular a economia. Os produtores, segundo ele, não "repassam" essa diminuição de custo ao consumidor; melhor seria manter os impostos e distribuir o dinheiro arrecadado "para os pobres", que vão gastá-lo com consumo e, aí sim, movimentar a máquina produtiva. É óbvio, em primeiro lugar, que a redução do IPI está mantendo animadas as vendas de veículos e eletrodomésticos; se esse tributo estivesse mais alto, cada centavo do montante cobrado estaria incluído no preço dos produtos, tornando-os mais caros do que estão. Em segundo lugar, é igualmente óbvio que quem paga o IPI não é a indústria nem o comércio; é o mesmíssimo consumidor que Lula se declara preocupado em defender. Enfim, nem o mais crédulo dos cidadãos acha que a arrecadação a mais seria distribuída "para os pobres". Não seria distribuída coisa nenhuma, nem para os pobres, nem para os ricos e nem para os médios: continuaria, como sempre, caindo no caixa sem fundo do governo e servindo para sustentar as despesas que ele tem consigo mesmo.
O governo lamenta até hoje os 40 bilhões de reais que deixou de arrecadar com o fim da CPMF e que deveriam estar sendo aplicados "na saúde". Conversa, é claro. Se fosse assim, não continuaria aumentando, sem parar, os gastos com custeio e folha de pessoal, que cresce na base de 1 000 funcionários por dia. Impostos a mais, para o governo, têm servido para o propósito único de aumentar o que consome com o próprio funcionamento. Só isso.
A conta, afinal, chegou
A rede internacional de varejo C&A não existe mais na Argentina; anunciou, na semana passada, o fechamento das 20 lojas que tinha por lá. Imagine-se um pouco a que fundo de poço a economia brasileira teria de chegar para algo parecido acontecer aqui - com a própria C&A, por exemplo, ou com um Carrefour ou um Wal-Mart. Esse episódio demonstra, mais uma vez, que não há nada como um dia depois do outro. Há apenas quatro anos, no começo de 2005, o presidente Néstor Kirchner deu um calote em regra na dívida externa argentina, anunciando que pagaria aos credores de 25% a 30% do valor dos títulos que tinham a receber, num montante total acima de 100 bilhões de dólares. Sua decisão, na época, foi saudada como genial; ao mesmo tempo, lamentava-se o que seria a estupidez do governo brasileiro, que em vez de copiar a Argentina continuava pagando em dia suas dívidas. Para que isso, se Kirchner tinha riscado mais de 70 bilhões de dólares do vermelho argentino e nada demais havia acontecido? Está acontecendo agora. Na verdade, os problemas na economia da Argentina vêm acontecendo há tempos, pois todo calote tem preço. Inclusive na política: nas eleições legislativas da semana passada os copresidentes Kirchner e sua mulher, Cristina, viram os adversários levar 70% dos votos.