Brumadinho (MG) após rompimento de barragem da Vale (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de fevereiro de 2019 às 10h18.
São Paulo - Efeitos econômicos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, ocorrido há duas semanas, já aparecem no preço global do minério de ferro e nas estimativas da produção industrial do País, com risco de consequente redução no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em até 0,1 ponto porcentual em 12 meses.
Segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), neste ano, o impacto no PIB deverá ser de menor proporção porque o corte na produção da companhia não é imediato. "O início do processo de redução da operação da empresa pode demorar. Supondo que comece no meio do ano, seria um corte de 0,05 ponto porcentual no PIB de 2019", explica a economista Luana Miranda.
Considerando apenas o segmento industrial, a redução na produção em doze meses poderá chegar a 0,7 ponto porcentual. "É muita coisa", destaca Luana. Para este ano, o Ibre vinha projetando um crescimento de 1,8% no PIB da indústria. Esse número, entretanto, deverá ser revisto.
A produção de minério de ferro do País também terá perdas significativas. Cálculos da Tendências Consultoria apontam para queda de 0,9% neste ano. Até então, a projeção era de um aumento de 7,8% na comparação com 2018.
Tradicional centro de mineração do País, o Estado de Minas Gerais - que já enfrenta uma crise econômica e fiscal há três anos - será o mais afetado pelo corte da produção da Vale. As estimativas para produção da indústria do Estado foram revistas de uma alta de 4,7% para uma expansão de apenas 0,2%.
Com esse desempenho mais fraco, o parque industrial do Estado, o segundo maior do País hoje, atrás apenas do de São Paulo, deve apresentar nova retração. Na última década, Minas Gerais vem perdendo destaque no segmento com a abertura de novas unidades da Vale no Pará. Em 2013, Minas era responsável por 11,3% de toda a produção industrial brasileira. Essa participação chegou a 10% em 2016, o último ano com dados divulgados. "É provável que, em 2017 e 2018, o Estado tenha voltado a perder peso. Com esses acidentes (de Brumadinho e Mariana, em 2015), a indústria extrativa vai se concentrando no Pará", destaca a economista Camila Saito, da Tendências. Segundo ela, as minas na região Norte também são mais modernas, produzindo minério de qualidade mais alta, enquanto as de Minas Gerais estão mais velhas. "Antes (de Brumadinho), o cenário para o Estado, já era desafiador, agora, ficou ainda pior", acrescenta.
O anúncio da Vale de que a produção de minério de ferro será cortada em 10% com a desativação de barragens semelhantes a que se rompeu já fez o preço do produto avançar quase 11%. A tonelada à vista passou de US$ 73 para US$ 81. Com a paralisação, na última quarta-feira, da mina de Brucutu - a maior da empresa em Minas Gerais -, o choque no preço deverá ser ainda maior. "Deverá chegar a US$ 90 na próxima semana", diz o economista Felipe Beraldi, da Tendências.
Cálculos de Beraldi indicam que os cortes na produção da Vale podem pressionar também a média anual do preço da commodity. Antes do rompimento da barragem, ele projetava que os valores recuariam 4,6% neste ano. Agora, prevê um aumento de 8,5%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.