Economia

Economistas duvidam que Brexit possa ajudar finanças do Reino Unido

Prometendo ampliar em 20 bilhões de libras o orçamento do SUS britânico, Theresa May anunciou que esforço será financiado, em parte, graças à saída da UE

Brexit: até mesmo as previsões do governo apontam para um crescimento mais lento e menores receitas fiscais (Toby Melville/Reuters)

Brexit: até mesmo as previsões do governo apontam para um crescimento mais lento e menores receitas fiscais (Toby Melville/Reuters)

A

AFP

Publicado em 20 de junho de 2018 às 20h00.

O governo britânico repete à exaustão que o Brexit permitirá que o país economize e invista - algo que desperta a desconfiança de economistas, em um contexto de desaceleração do crescimento pesando sobre as contas públicas.

Prometendo ampliar em 20 bilhões de libras o orçamento do NHS, o SUS britânico, a primeira-ministra Theresa May anunciou nesta semana que o esforço será financiado, em parte, graças à economia feita quando o país deixar a União Europeia. Esse é um dos principais argumentos a favor do Brexit.

Essa promessa - basicamente, defender a saída para salvar o NHS - já tinha sido usada no debate que antecedeu o referendo de 2016 sobre a manutenção do país na UE.

Observadores independentes e oponentes da retirada apontaram que essa promessa mostraram que isso não necessariamente é verdade.

O líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, alertou a chefe de governo para esta questão.

"Antes que esse governo não seja sincero sobre a fonte desse financiamento, como e por que ele poderia garantir o NHS?", questionou nesta quarta-feira na Câmara dos Comuns. "Seus dados são duvidosos", acusou.

A primeira-ministra reagiu, prometendo mais 600 milhões de libras por semana para o NHS, quase o dobro do valor prometido pelo grupo pró-Brexit em 2016.

"Isso será financiado em parte pelo dinheiro que não vamos mais gastar com a União Europeia", afirmou.

Previsões pessimistas

No entanto, até mesmo as previsões do governo apontam para um crescimento mais lento e menores receitas fiscais. E o fim dos subsídios europeus em várias áreas, incluindo a agricultura, terá que ser compensado por Londres. Esse conjunto de fatores não deve permitir que o Executivo faça economias após a saída da UE.

"A longo prazo, o impacto da desaceleração do crescimento é bem superior aos ganhos com o fim da contribuição para a UE", explicou à AFP Fabrice Montagné, economista chefe para o Reino Unido do banco britânico Barclays.

Desde o referendo e mesmo antes da concretização do Brexit, o crescimento econômico recuou a uma taxa muito baixa, a inflação reduziu o poder de compra das famílias e muitas empresas estão adiando investimentos.

O Gabinete de Responsabilidade Orçamentária (OBR, na sigla em inglês), encarregado das previsões econômicas oficiais, avalia que o Brexit vai reduzir as receitas públicas do país em cerca de 15 bilhões de libras em 2020-21.

"Isso supera de longe a contribuição líquida do Reino Unido para a UE e não significa mais, mas menos dinheiro para o NHS e outros serviços públicos", apontou o Instituto de Estados Fiscais (IFS).

O governo britânico também prometeu honrar seus compromissos com o orçamento europeu para os próximos anos, de até 37,1 bilhões de libras, segundo um montante calculado pelo OBR.

Acompanhe tudo sobre:BrexitReino UnidoUnião Europeia

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo