Pedestre caminha em frente de loja em São Francisco, nos Estados Unidos, em isolamento diante da pandemia do coronavírus (Justin Sullivan/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 2 de abril de 2020 às 06h00.
Última atualização em 2 de abril de 2020 às 18h51.
São Paulo - Há ampla concordância, entre economistas de prestígio, de que a necessidade de isolamento social para conter a disseminação do coronavírus exige tolerar uma forte retração na atividade econômica.
Da mesma forma, uma grande maioria concorda que abandonar as medidas de confinamento a essa altura só agravaria o impacto econômico no futuro, na contramão da visão de que há algum tipo de escolha entre vidas e empregos.
A conclusão é de uma pesquisa publicada recentemente pela escola de negócios da Universidade de Chicago, meca do liberalismo mundial, que há dois anos vem mapeando a visão de economistas consagrados sobre temas de interesse público.
A primeira pergunta feita para eles desta vez foi se "uma resposta abrangente de políticas contra o coronavírus envolve tolerar uma contração bem grande da atividade econômica até que a difusão da doença recue de forma significativa".
52% dos economistas consultados concordam fortemente, enquanto 36% concordam, porém não enfaticamente, e 5% estão incertos. Nenhum discorda.
O economista Michael Greenstone, também da Universidade de Chicago, faz a ressalva de que a contração econômica não é resultado apenas das políticas de isolamento em si, mas de mudanças no comportamento que as pessoas fariam de qualquer forma diante do risco de adoecerem.
A segunda pergunta é se "abandonar os bloqueios severos, em um momento no qual a probabilidade de ressurgimento das infecções segue alta, levará a um dano econômico maior do que sustentar estes bloqueios de forma a eliminar o risco de ressurgimento da doença".
41% dos economistas consultados concordam fortemente, enquanto 39% apenas concordam e 14% estão incertos. Novamente, nenhum discorda.
A ideia é que não achatar a curva de aumento de casos agora vai gerar um tal aumento das hospitalizações e do número de mortes evitáveis que levaria inevitavelmente a sociedade a fazer um fechamento ainda mais duro e longo depois, e sem os ganhos em saúde. É o caso da Itália.
"Não sou um epidemiologista, mas tudo que eu leio sugere que uma cessação prematura [do bloqueio] sairia pela culatra", escreve Anil Kashyap, também da Universidade de Chicago.
José Scheinkman, economista brasileiro que dá aula na Universidade de Columbia, aponta que sem uma vacina, é alta a chance da doença ter recorrência até que uma boa parte da população tenha se infectado. Uma estratégia do tipo ótima, portanto, envolveria vários ciclos de redução de contato.
A terceira pergunta é se uma otimização dos recursos envolveria ter o governo "investindo mais do que faz atualmente em expansão da capacidade de tratamento através de passos como a construção de hospitais temporários, a aceleração da testagem, fazer mais máscaras e ventiladores e dar incentivos financeiros para a produção de uma vacina bem-sucedida".
66% concordam fortemente e 27% apenas concordam. Nenhum economista consultado está incerto ou discorda da proposição.
William Nordhaus, economista da Universidade de Yale, resume o sentimento dos especialistas: considerando a duração e profundidade da recessão que se avizinha, é dificil imaginar o que seria "investir demais" contra a pandemia.