Jair Bolsonaro. 20 de março de 2020. (Andressa Anholete/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 9 de abril de 2020 às 10h05.
Última atualização em 17 de abril de 2020 às 18h14.
O presidente Jair Bolsonaro está praticamente isolado em seu discurso menos rígido em relação à necessidade do distanciamento social para conter a disseminação do novo coronavírus. Essa postura, segundo a revista The Economist, deverá marcar o começo do fim de sua presidência.
"Um por um, os que duvidam fizeram as pazes com a ciência médica. Apenas quatro governantes do mundo continuam negando a ameaça à saúde pública representada pela covid-19. Dois são destroços da antiga União Soviética, os déspotas da Bielorrússia e do Turquemenistão. Um terceiro é Daniel Ortega, o ditador tropical da Nicarágua. O outro é o presidente eleito de uma grande democracia, ainda que maltratada", diz a publicação em texto da nova edição.
A tradicional revista britânica destaca que Bolsonaro é apoiado por um pequeno círculo de fanáticos ideológicos que incluem seus três filhos, pela fé de muitos protestantes evangélicos e pela falta de informações sobre a Covid-19 entre alguns brasileiros. Esses dois últimos aspectos, porém, podem mudar à medida que o vírus atinge seu pico.
O número de casos confirmados e mortes deve subir muito entre as últimas semanas de abril e as primeiras de maio, segundo expectativa oficial. Já antecipando este movimento, muitos governadores determinaram o fechamento do comércio não essencial em seus estados já nas últimas semanas de março, o que gerou uma tensão com Bolsonaro.
Dizendo temer os impactos econômicos, Bolsonaro defende o "isolamento vertical", pelo qual apenas os brasileiros com mais de 60 anos ficariam em quarentena. "Existem dois problemas com isso. Os jovens morrem de covid-19 (10% dos mortes no Brasil têm menos de 60 anos), e a imposição dessa quarentena seria impossível", diz a Economist.
Enquanto isso, a popularidade do presidente cai. Uma pesquisa realizada neste mês pelo Datafolha, e citada na publicação, revela 76% de aprovação para atuação do Ministério da Saúde na questão do coronavírus, em comparação com 33% para o gerenciamento da crise por Bolsonaro.
"Ele chegou duas vezes perto de demitir seu próprio ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta. Bolsonaro está aparentemente com ciúmes do crescente perfil de um ministro que ele alega 'carece de humildade'", diz o texto.
A Economist cita ainda que seus principais ministros, incluindo o grupo de generais no gabinete, bem como o Congresso, também deram apoio às vezes ostensivo a Mandetta. "Mesmo para seus próprios padrões, a violação do dever principal de Bolsonaro, de proteger vidas, foi longe demais", diz.
Como consequência, afirma a Ecomomist, os pedidos para que ele saia aumentaram. "Eles não vêm apenas da esquerda, mas também de alguns de seus ex-apoiadores, como Janaina Paschoal, uma deputada estadual de São Paulo que ele considerou como seu companheiro de chapa. Dizendo que ele era culpado de 'um crime contra a saúde pública'".
Janaina também disse que, apesar disso, o país não tem tempo para mais um processo de impeachment neste momento. Por isso, apesar de Bolsonaro ter forçado a possibilidade de sua própria saída, segundo a revista, é provável que permaneça lá após a superação da epidemia.