Economia

Economias da América Latina tentam evitar outra década perdida

Região, que ainda tenta se recuperar do fim do boom das commodities, teve taxa de crescimento anual média de apenas 0,7% nos últimos anos

Moradores de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Lianne Milton/Bloomberg (Lianne Milton/Bloomberg)

Moradores de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Lianne Milton/Bloomberg (Lianne Milton/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 29 de maio de 2019 às 16h55.

Última atualização em 29 de maio de 2019 às 17h32.

A América Latina corre o risco de perder mais uma década.

A região, que ainda tenta se recuperar do fim do boom das commodities, teve uma taxa de crescimento anual média de apenas 0,7% nos últimos anos. Esse ritmo não acompanha o crescimento da população, o que significa que os habitantes estão mais pobres hoje do que em 2012, segundo o Fundo Monetário Internacional. As maiores economias da América Latina - Brasil, México e Argentina - encolheram simultaneamente pela segunda vez em pouco mais de três anos, causando mais uma dor de cabeça para os governos.

O que há por trás da deterioração econômica? Preocupações mais imediatas incluem as tensões comerciais no exterior e as crescentes incertezas políticas locais. Mas é a fraqueza estrutural não resolvida quando os preços agrícolas, de energia e de metais dispararam na última década - seja uma estatal de petróleo ineficiente no México ou gastos insustentáveis com Previdência no Brasil - que pode acabar atrasando ainda mais o desenvolvimento da região nos próximos anos.

“A América Latina desperdiçou muitas oportunidades”, disse Adriana Dupita, economista da Bloomberg para a América Latina. "Agora terão que trabalhar muito mais e em condições adversas."

O fiasco econômico coloca pressão sobre os bancos centrais para agir, embora seu poder de ação seja limitado. No Brasil, muitos esperam que o Banco Central corte os juros, mas somente depois que o governo conseguir aprovar a reforma da Previdência. No México, a inflação acima da meta impede uma redução das taxas, atualmente no nível mais alto em uma década.

Ninguém está dizendo que a crise atual será tão grave quanto a calamidade econômica dos anos 80, quando mais de uma dúzia de países não pagaram suas dívidas. No entanto, existem sinais preocupantes por todos os lados.

No Brasil, o PIB encolheu entre janeiro e março, segundo o índice de atividade do Banco Central divulgado em 15 de maio. Se a tendência for confirmada com a divulgação dos dados do PIB na quinta-feira, será a primeira retração trimestral do país desde 2016. Para 2019, analistas esperam expansão de pouco mais de 1%, o terceiro ano de crescimento morno. Além disso, a renda média dos brasileiros despencou 8% durante a última recessão e, desde então, estagnou, segundo relatório de 17 de maio de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC.

"Só nos resta definir a situação como característica de uma depressão", disse Pastore.

O cenário no México também não é muito animador. O PIB mexicano encolheu nos primeiros três meses do ano, sob o impacto da menor produção de petróleo, fraca demanda por serviços e redução dos gastos do governo. O Bank of America, que tem uma das visões mais pessimistas sobre o México, agora espera crescimento de apenas 1% este ano. O acordo comercial EUA-México-Canadá pendente de aprovação, a erosão da confiança no governo e quedas adicionais da produção de petróleo se destacam entre os riscos.

Pior ainda é a situação da Argentina. A economia encolheu 6,8% em março, a 11ª queda mensal na comparação anual. O país entrou e saiu de várias recessões desde 2012, mas a crise atual tem sido a mais longa. Os argentinos ainda não viram os frutos das políticas pró-mercado do presidente Mauricio Macri, que se viu forçado a estabelecer alguns controles de preços, já que a inflação está acima de 50%.

Economias de menor peso na América Latina também não ficaram imunes. A economia do Chile, exemplo de boa gestão econômica na região, está estagnada. Já o Peru registrou o menor crescimento trimestral desde 2017. Ambas as economias, que dependem fortemente do setor de mineração, foram prejudicadas pela guerra comercial EUA-China. E, claro, sem falar na Venezuela, cujo colapso econômico é um dos piores já vistos na história do país.

Como as três maiores economias representam cerca de dois terços do PIB da região, não é surpresa que o crescimento da América Latina tenha ficado abaixo da média dos países em desenvolvimento por duas décadas.

"O crescimento na região tem sido lento há vários anos, e as perspectivas para a região e para os preços das commodities não são, de maneira alguma, fantásticas", disse Shelly Shetty, diretora sênior para a América Latina da Fitch Ratings.

Gráfico mostra o PIB da América Latina em comparaão com a média dos países emergentes nos últimos 20 anos: Em branco, a média de países emergentes. Em azul, a de países da América Latina e Caribe

Gráfico mostra o PIB da América Latina em comparação com a média dos países emergentes nos últimos 20 anos:
Em branco, a média de países emergentes. Em azul, a de países da América Latina e Caribe (Bloomberg/Bloomberg)

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