Economia

Economia não explica adesão ao Estado Islâmico, diz estudo

Para dupla de pesquisadores, não é a pobreza ou a desigualdade que está alimentando a adesão ao Estado Islâmico nos países europeus - pelo contrário.


	Homem com bandeira do Estado Islâmico em Raqqa, Síria: eles receberam combatentes de 85 países
 (Reuters)

Homem com bandeira do Estado Islâmico em Raqqa, Síria: eles receberam combatentes de 85 países (Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 3 de agosto de 2016 às 06h00.

São Paulo - O que faz alguém abandonar sua família e se juntar ao Estado Islâmico?

Não são os problemas econômicos no seu país de origem, afirma um estudo publicado em abril pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos.

Pelo contrário: "Nós verificamos uma correlação positiva entre indicadores de prosperidade econômica e a chance de se juntar ao Estado Islâmico, enquanto desigualdade de renda, desemprego e condições sociais e políticas não são determinantes para adesão ao EI em países não-islâmicos", dizem os autores.

Eles são Efraim Benmelech, professor de Finanças da escola de administração Kellogg da Northwestern University, e Esteban F. Klor, presidente do Departamento de Economia da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel.

A dupla utilizou como banco de dados dois relatórios do grupo Soufan, que fornece informações estratégicas de segurança para governos e multinacionais.

São contabilizados 30 mil combatentes recebidos de 85 países até dezembro de 2015 - a maioria do mundo árabe e do Oriente Médio, mas não apenas.

Pelos dados oficiais, os campeões de origem de combatentes são Tunísia (6 mil), Arábia Saudita (2,5 mil) e Rússia (2,4 mil).

Na Europa ocidental, lideram França (1,7 mil) e Alemanha e Reino Unido (760 cada); o Brasil tem três. Os dados não oficiais listam 600 advindos da Líbia.

Na conta que divide o número de combatentes pela população total, despontam Tunísia, Maldivas e Jordânia - até aí sem grandes surpresas.

Mas na comparação entre o número de combatentes e a população muçulmana total, a liderança fica com a Finlândia, um dos países mais ricos e igualitários do mundo - assim como Bélgica e Suécia, no 3º e 4º lugares, respectivamente.

A dupla de pesquisadores aplicou então modelos econométricos de regressão que relacionam o número de combatentes com indicadores econômicos dos seus países de origem, assim como de liberdade política, desenvolvimento humano e divisões étnicas, linguísticas e religiosas.

A grosso modo, um aumento de 10% no PIB per capita é associado com uma alta de 1,5 ponto percentual na chance de que cidadãos de um determinado país se juntem ao EI. Não há relação com a desigualdade de renda.

Mas se não é a economia, o que explica a adesão? Com base nos dados de fragmentação interna dos países de origem, os pesquisadores sugerem que o problema pode ser de integração.

"A razão pode ser encontrada nas características do país: eles são étnica e linguisticamente homogêneos. Na verdade, quanto mais homogêneo o país de origem, maior a dificuldade que imigrantes, como os muçulmanos do Oriente Médio, experimentam na assimilação. Assim como mostram outras pesquisas, o isolamento faz com que alguns deles se radicalizem".

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