Dólares: “ainda estamos no ajuste pós-crise”, disse analista (Thinkstock/Ingram Publishing)
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2016 às 16h17.
É possível dizer que a economia está à deriva. De algum modo, o mundo consegue se manter à tona, mas não vai a nenhum lugar muito rapidamente.
Com o apoio de um excesso de liquidez dos bancos centrais, o mundo contornou diversos perigos e cresceu a um ritmo constante, embora nada espetacular, desde 2010.
E parece que fará o mesmo no próximo ano, desacelerado, mas não atolado, pela decisão do Reino Unido, em referendo, de sair da União Europeia.
“Poderíamos acabar perdendo talvez um quarto de ponto percentual” no crescimento mundial como resultado do Brexit, disse David Hensley, diretor de economia global do JPMorgan Chase & Co. em Nova York. “Não é suficiente para nos tirar do curso de 2 a 3 por cento que estamos operando nos últimos anos”.
Depois da recessão mais profunda desde a Grande Depressão, a expansão em câmera lenta não conseguiu extinguir a prolongada ansiedade de consumidores e empresas assustados com a crise. Isso levou ambos os grupos a refrear seus gastos, o que retardou a força da recuperação.
Ministros do Comércio dos países do G-20, em reunião em Xangai no domingo, viram poucos motivos de otimismo. O investimento transfronteiriço mundial poderia chegar a cair 15 por cento neste ano porque o comércio continua lento, disse o ministro chinês. Os representantes do G-20 prometeram intensificar seus esforços.
“Foi uma expansão decepcionante, simplesmente seguindo a maré”, disse Peter Hooper, economista chefe da Deutsche Bank Securities em Nova York e ex-membro do Federal Reserve. Contudo, essa recuperação bastou para reduzir o desemprego, especialmente nos EUA, observou ele.
A questão é por quanto tempo esse status quo sem brilho pode durar. Os bancos centrais já levaram a política monetária ao limite, com cortes dos juros para menos de zero em alguns países e compras de títulos governamentais aos montes.
Pressões populistas
As pressões populistas alimentadas por padrões de vida estagnados estão aumentando, o que levou à decisão do Reino Unido, em referendo no dia 23 de junho, de sair da UE e à ascensão de uma dupla improvável, Donald Trump e Bernie Sanders, como candidatos à presidência dos EUA.
E os mercados financeiros parecem perplexos, porque a queda do rendimento dos títulos sinaliza uma angústia crescente entre os investidores em relação ao panorama, e as oscilações dos preços das ações sugerem que não há muita preocupação.
Por enquanto, no entanto, parece que a deriva deve continuar -- e em nenhum outro lugar isso é mais evidente do que na maior economia do mundo, os EUA.
O salto surpreendentemente grande de 287.000 do mercado de trabalho no mês passado acalmou os temores de que a economia estivesse perdendo altitude depois de um ganho magro em maio, de 11.000.
Passo lento
Com todos os altos e baixos, o PIB dos EUA cresceu uma média de 2,1 por cento ao ano desde que a recessão terminou, em 2009. Esta é a expansão mais lenta do período posterior à Segunda Guerra Mundial. Mas, já com sete anos e ainda ativa, ela também é a quarta mais longa.
Ao contrário dos EUA, a Europa continua sobrecarregada com empréstimos bancários de liquidação duvidosa e desemprego elevado, que adiam o crescimento.
Isso está sendo compensado pelo enorme estímulo do Banco Central Europeu, que, segundo o FMI, deve ser expandido se a inflação não aumentar.
“Ainda estamos no ajuste pós-crise”, disse Holger Sandte, analista-chefe da Europa da Nordea Markets em Copenhagen.
E “continuaremos nessa situação por um tempo, talvez de três a cinco anos”.