Notas de real: até mesmo as lanchonetes estão enfrentando problemas (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 18 de agosto de 2015 às 23h01.
No Brasil, a General Motors Co. vem paralisando fábricas e colocando milhares em layoffs. A Latam Airlines, maior empresa aérea da região, está cortando voos.
E a terceira maior fabricante de aviões do mundo, a Embraer SA, está atrasando o lançamento da maior de suas novas aeronaves.
Em meio à crise econômica e política mais aguda em uma geração, o Brasil está enfrentando um clima empresarial tão punitivo que grandes projetos de numerosos setores estão sendo congelados ou encolhidos, enquanto pequenas empresas reduzem preços e mudam o foco.
“A instabilidade política é enorme e está paralisando o Brasil”, disse Eduardo Fischer, co-CEO da construtora residencial MRV Engenharia Participações SA, em entrevista no dia 5 de agosto.
Em Brasília, “as decisões e ações que precisam ser tomadas estão sendo adiadas, questionadas ou derrotadas, e nada acontece”.
Até mesmo as lanchonetes estão enfrentando problemas.
O Carambola’s, uma lanchonete no Itaim Bibi, em São Paulo, registra uma queda de 30 por cento durante o almoço há alguns meses.
O estabelecimento demitiu dois funcionários e está fechando mais cedo, pois os clientes deixaram de frequentá-lo após o trabalho.
“As pessoas estão trazendo almoço de casa”, disse Rafael Bruno da Silva, o gerente do turno da tarde, recentemente, enquanto um único cliente tomava café. “Nós reduzimos os preços dos sucos, mas isso não parece estar fazendo muita diferença”.
Esquema de corrupção
Os parlamentares de oposição e muitos cidadãos comuns estão pedindo a renúncia da presidente Dilma Rousseff, cuja popularidade atingiu uma baixa recorde.
Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados estão sendo investigados em um suposto esquema de corrupção que desviou dinheiro da estatal Petrobras, a empresa petrolífera mais endividada do mundo, para partidos políticos no maior escândalo de corrupção da história.
Além disso, projeta-se que a economia encolherá 2,01 por cento neste ano, a inflação está acima da meta do Banco Central e o desemprego, no nível mais alto em cinco anos.
O real registra o pior desempenho entre as principais moedas do mundo neste ano.
A crise faz lembrar os anos 1990, quando funcionários eram contratados para remarcar os preços nos mercados ao longo do dia por causa da hiperinflação. Para algumas pessoas, trata-se de uma nova e assustadora experiência.
“As gerações mais jovens não viveram nenhuma volatilidade”, disse Fernando Perlatto, professor de Sociologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. “Isso contribui para a incerteza.
As pessoas estão reduzindo custos, não estão se casando, coisas do tipo. Na universidade, não estamos marcando nenhuma conferência, viagem ou evento acadêmico”.
Pagamentos atrasados
A Embraer, fabricante de jatos regionais com melhores vendas no setor, vinha contando com novos produtos para ampliar a receita, como o KC-390, uma aeronave de transporte militar.
O avião deveria ser patrocinado e adquirido pelo governo brasileiro. Em vez disso, a Embraer, que está aguardando o pagamento de US$ 370 milhões, atrasou a data de início da produção em um ano.
“Eu não espero um 2016 muito melhor do que 2015”, disse o CEO Frederico Curado em uma conferência com analistas no dia 30 de julho. “O que também não espero são novas surpresas como as que tivemos neste ano”.
As fabricantes de automóveis do Brasil também viram a demanda despencar, com vendas 20 por cento mais baixas no primeiro semestre do ano na comparação com o mesmo período de 2014, disse a Anfavea, a associação das fabricantes de veículos.
A GM e a Volkswagen AG estão fechando fábricas temporariamente e colocando os trabalhadores de licença. Elas preferiram não comentar.
Novela
A MRV, segunda maior construtora residencial do Brasil, não está levando adiante muitos novos projetos porque aguarda a aprovação de financiamento adicional para residências de baixa renda, um pilar do Partido dos Trabalhadores (PT), a legenda de Dilma.
Em maio, o governo anunciou o congelamento de bilhões de reais em investimentos, incluindo R$ 5,6 bilhões para o programa habitacional.
“Precisamos superar isso”, disse Fischer, o CEO da construtora.
“Nossa meta hoje pode ser deixar essa novela para trás ou o Brasil não avançará”.