Michelle Bachelet: "Vamos entregar à futura administração uma economia em recuperação", garantiu Bachelet (Jorge Silva/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de novembro de 2017 às 14h31.
A economia chilena receberá o próximo presidente eleito com saldo positivo. A alta dos preços do cobre e um mercado que dá por certo a volta da direita ao poder pelas mãos de Sebastián Piñera explicam essa melhoria, segundo os analistas.
A queda dos preços do cobre, do qual o Chile é o principal exportador global, e os ressentimentos do mercado que criticou a reforma tributária do governo de centro-esquerda de Michelle Bachelet levaram o país a crescer apenas 1,6% em 2016, seu pior desempenho em sete anos.
Mas as nuvens já começam a se dispersar.
"Uma recuperação se insinua, tem a ver com fatores externos, com a melhoria dos preços do cobre, economias desenvolvidas crescendo, a recuperação das emergentes da América Latina, e um fator de expectativas de mudanças, antecipando um futuro governo mais preocupado com o mercado", disse à AFP Alejandro Fernandez, gerente de estudos da Gemines Consultores.
O Produto Interno Bruto (PIB) do país se expandiu apenas 0,7% no segundo trimestre deste ano, mas espera-se que o número do segundo semestre fique em torno de 3%, permitindo que o país cresça 1,5% em 2017.
Para o analista, no mercado "está bastante internalizado que Piñera (direita) será o próximo presidente", apesar de que se o governista Alejandro Guillier vencer nas urnas, "a visão é mais favorável ao governo atual, e isso está incidindo nas expectativas".
O ex-presidente Piñera (2010-2014) lidera as pesquisas para as eleições de domingo, com 34,5% da intenção de voto, enquanto o jornalista e senador independente Guiller, que representa a centro-esquerda, soma 15,4% das preferências.
Mas a clara vantagem de Piñera, dono de uma das maiores fortunas do Chile, não seria o suficiente para conseguir 50% dos votos no primeiro turno, e levaria o pleito ao segundo turno, previsto para 17 de dezembro.
A vantagem de Piñera nas pesquisas já começou a ser sentida nos mercados de valores, que elevaram a Bolsa de Santiago ao seu máximo histórico, superando os 5.000 pontos em julho.
"Vamos entregar à futura administração uma economia em recuperação, livre de desequilíbrios e com capacidade para retomar maiores níveis de crescimento", garantiu Bachelet em uma coluna publicada na segunda-feira pelo Diario Financiero.
Para além do otimismo atual, o Chile terá que regular, a médio prazo, uma dívida pública gerenciável (21% do PIB em 2016), mas que deve chegar em breve a 25% do Produto Interno Bruto.
Os alertas foram disparados em julho com a decisão da agência de classificação Standard & Poors de reduzir pela primeira vez em 25 anos a nota do crédito no Chile. Ela foi seguida pela Fitch, mas a Moody's manteve a nota em As3 (alta qualidade), porém reduziu a perspectiva para "negativa".
Durante sua campanha, Piñera considerou o crescimento da dívida alarmante e alertou que, se voltar à Presidência, vai trabalhar para "corrigir o curso", com um plano de "austeridade e reatribuição" no orçamento.
Contudo, Guillier afirmou que a preocupação com a dívida é exagerada e destacou que "o importante é que o dinheiro esteja bem investido".
Francisco Castañeda, economista da Universidade de Santiago, concorda com minimizar a preocupação com o aumento do endividamento do Estado, já que "o custo financeiro da dívida não subiu".
A inflação abaixo da meta fixada pelo governo (3%), a estabilidade política e a poupança milionária nos cofres do Estado esclarecem as dúvidas sobre o rumo econômico do Chile, assegurou o especialista à AFP.
Com renda per capita de 23.950 dólares, o Chile tem, a médio prazo, o desafio de se tornar um país desenvolvido.
Piñera estabeleceu uma data. "Em oito anos", o Chile será "um país desenvolvido", prometeu o magnata durante sua campanha.
Um desafio importante em um país que depende das matérias-primas: mineração, sobretudo do cobre, agropecuária e produtos florestais.
A chave está na inovação e diversificação da produção, especialmente na aposta em pequenas e médias empresas, aconselha o economista Ricardo French Davis.
E a educação, sobretudo técnica, lembra Castañeda.