Economia

Economia brasileira: cinco forças e cinco fraquezas

De finanças públicas estáveis ao alto custo dos negócios: veja os altos e baixos da economia brasileira


	A recente redução dos juros e o recuo do real são pontos que podem ser considerados positivos
 (©AFP / vanderlei almeida)

A recente redução dos juros e o recuo do real são pontos que podem ser considerados positivos (©AFP / vanderlei almeida)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2012 às 22h10.

São Paulo - A economia brasileira, que até recentemente tinha performance estrelar entre os mercados emergentes, agora tem crescimento esperado de pouco mais de 1 por cento neste ano, intensificando a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff para melhorar sua performance.

Abaixo, cinco fraquezas e cinco forças da economia do Brasil.

FRAQUEZAS

1. Altos custos de negócios

O Brasil é a terra dos iPads de 2.300 reais e bifes de 100 reais em restaurantes. O problema é tão difundido que os brasileiros têm um nome para ele --o "custo Brasil".

Há várias causas subjacentes. Gastos com infraestrutura não foram capazes de acompanhar o crescimento explosivo da última década, colocando grande pressão sobre rodovias e portos. Isso significa que fazendeiros muitas vezes pagam quatro vezes mais do que seus equivalentes norte-americanos para transportar seus bens a portos.

Outro motivo são os impostos. O Brasil coleta cerca de 35 por cento de sua produção econômica em impostos, bem acima da média latino-americana. O código tributário também é complexo, forçando empresas a gastar em média 2.600 horas todo ano calculando quanto devem. É 14 vezes o tempo tipicamente gasto nos Estados Unidos e, de longe, o maior no mundo, de acordo com o Banco Mundial.

2. Consumidores exaustos

Grande parte da trajetória de sucesso do Brasil ao longo da última década foi uma expansão no crédito ao consumidor, que deu a muitas pessoas aceso a carros, televisões e outros bens pela primeira vez. Mas há sinais de que a onda de gastos está reduzindo a marcha, tendência que talvez se estenda por anos.


Brasileiros atualmente gastam cerca de 22 por cento de sua renda doméstica em serviço de dívida --um nível que, segundo analistas, não indica uma bolha, mas não deixa muito espaço para expansão. A inadimplência também permaneceu em altas recordes neste ano apesar de salários resilientes e um forte mercado de trabalho.

3. Nível surpreendentemente baixo de comércio

A imagem mais conhecida do Brasil no exterior talvez seja de exportador de commodities como minério de ferro, suco de laranja, carne e soja. As pessoas costumam se surpreender ao descobrir que o Brasil é a grande economia mais fechada do Hemisfério Ocidental, com comércio respondendo por apenas 25 por cento de seu Produto Interno Bruto (PIB).

Altas tarifas e uma ausência de acordos comerciais significam que o Brasil é essencialmente um grande e autônomo mercado doméstico. Isso ajudou a nutrir uma base manufatureira ativa, mas também dificulta que o Brasil encontre outras fontes de crescimento quando os consumidores estão fatigados, como é o caso atualmente.

Em comparação, espera-se que economias abertas na costa do Pacífico da América Latina, como México, Chile e Peru, tenham expansão muito mais ampla do que o Brasil neste ano.

4. Mercado de trabalho apertado

Apesar de dois anos de crescimento lento, o desemprego continua na mínima recorde de 5,3 por cento. Empresas enfrentam dificuldades para encontrar mão de obra qualificada, e precisam pagar salários mais altos para manter os funcionários que já têm --outra grande causa para o "custo Brasil".


Boa parte da culpa pelos atrasos nos projetos de construção enquanto o Brasil se prepara para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 foi atribuída à falta de mão de obra qualificada.

5. A gestão econômica da presidente Dilma Rousseff

A líder esquerdista do Brasil tentou reviver a economia depreciando a moeda, distribuindo desonerações e criando condições para uma queda histórica nas taxas de juros. Mas muitos investidores criticaram suas ações por sua imprevisibilidade e aparente aleatoriedade, e deixaram o Brasil como resultado.

O investimento caiu 2 por cento entre julho e setembro, e registrou contratação por cinco trimestres consecutivos.

FORÇAS

1. Otimismo sobre o futuro

Da suíte executiva ao mercado de esquina, muitos brasileiros parecem acreditar que as recentes dificuldades são apenas uma pausa na emergência de seu país como uma potência econômica. Especialmente entre as 40 milhões de pessoas que deixaram a pobreza na última década, sua crença no futuro continua firme.

Isso traduziu-se em grande confiança do consumidor e provavelmente explica a hesitação de empresas em demitir funcionários. Consequentemente, Dilma e sua equipe econômica esperam que a atividade continue uma forte expansão assim que eles terminem de lidar com alguns gargalos estruturais.


2. Finanças públicas estáveis

Uma década de gestão fiscal sólida deixou o Brasil numa posição financeira que é a inveja dos Estados Unidos e da maioria dos países europeus. Sua dívida representa pouco menos de 40 por cento do PIB, e esse número tem caído continuamente nos últimos anos.

Parte da posição relativamente positiva do Brasil se deve a questões demográficas favoráveis, com uma idade mediana de 29,6 anos -- comparado a 37,1 nos Estados Unidos e 43,8 na Itália. O Brasil pode inevitavelmente enfrentar os perigos financeiros de uma população envelhecida, mas isso ainda deve demorar duas ou três décadas, diz a maior parte dos analistas.

3. Juros e moeda mais normais

Até recentemente, consumidores brasileiros pagavam em média cerca de 40 por cento de juros por sua dívida --um número impressionantemente alto, legado da inflação exorbitante do país no início da década de 1990. Os juros cobrados sobre cartões de crédito muitas vezes chegavam aos três dígitos.

Os juros estão sendo reduzidos, o que deve permitir gasto de consumidor mais sustentável com o tempo --além de uma ampla realocação de capital de bônus do governos para investimentos mais produtivos.

Um declínio de 27 por cento na moeda brasileira desde agosto passado também fez com que o real parecesse menos supervalorizado, ajudando a proteger a indústria de uma enxurrada de importações.


4. Indústria está se recuperando

Dados recentes sugerem que manufatureiros brasileiros, que tiveram produção estagnada nos últimos cinco anos, estão finalmente se recuperando. A indústria cresceu 1,1 por cento no terceiro trimestre, sua melhor performance desde o início de 2010. A manufatura expandiu em novembro no maior ritmo em quase dois anos, de acordo com o índice gerente de compra (PMI, na sigla em inglês) do HSBC.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse na semana que, por conta do grande papel da indústria na economia brasileira, a recuperação industrial deve gerar investimento mais alto em toda a economia.

5. A gestão econômica da presidente Dilma Rousseff

Isso mesmo, isso pode ser visto como força, também.

Apesar de todas as desconfianças a respeito das intervenções de Dilma na economia, muitos brasileiros e investidores estrangeiros acreditam que elas gerarão crescimento sólido uma vez que um período instável de transição for concluído.

Sua disposição em resistir a elementos de extrema esquerda em seu próprio partido, e envolver mais o setor privado na construção de rodovias e aeroportos, por exemplo, incentivaram esperanças de que ela é pragmática o suficiente para resolver muitos dos gargalos do país.

Acompanhe tudo sobre:ConsumoCusto BrasilImpostosLeãoreformas

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo