Profissional do sexo esperando cliente: seu trabalho vai entrar no PIB (Tomas Castelazo/Wikimedia Commons)
João Pedro Caleiro
Publicado em 30 de maio de 2014 às 13h29.
São Paulo - Todo mundo sabe que o tráfico de drogas e a prostituição movimentam quantias enormes de dinheiro.
Agora, os governos estão concluindo que pode ser uma boa ideia incluir estes números no cálculos oficiais do tamanho da economia.
Nesta semana, o Reino Unido detalhou as mudanças que fará na metodologia do PIB (Produto Interno Bruto) a partir de setembro.
Algumas atividades ilegais passarão a ser incluídas, tais como a prostituição e o consumo, fabricação e importação de drogas ilegais, diz o Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS).
A mudança deve representar um acréscimo de quase 10 bilhões de libras no PIB oficial de 2009 (£5,3 bilhões da prostituição e £4,4 bilhões das drogas)
O anúncio vem logo após uma decisão semelhante da Itália. Os dois países estão se ajustando a novas regras da União Europeia, que recomendam o registro de todas as transações - legais e ilegais - com o objetivo de harmonizar as estatísticas de todo o bloco.
Ilegalidade
O monitoramento da economia ilegal cria uma dificuldade adicional para os escritórios de estatística. Afinal, como registrar detalhes de atividades que se tenta esconder a qualquer custo?
O ONS britânico explica: no caso das drogas, olha-se para a demanda. Pesquisas oficiais descobrem o preço médio e a porcentagem de usuários no país, e o cálculo é extrapolado para o total da economia.
No caso da prostituição, olha-se para a oferta: há estimativas do número de prostitutas, dos preços cobrados e da quantidade de clientes. Multiplicando os três valores, é possível chegar a um número final.
O escritório reconhece que estes métodos dependem de suposições muitas vezes frágeis, especialmente no caso do comércio sexual.
No ano passado, um estudo encomendado pelo governo americano estimou o tamanho da economia ilegal em oito grandes cidades do país com base em entrevistas de campo.
Métodos
Padrões internacionais existem, mas a decisão de como medir o PIB continua sendo uma prerrogativa de cada economia.
E como novos produtos e serviços são criados (ou desaparecem) todos os dias, a recomendação é que os países atualizem seus critérios no mínimo a cada 5 anos.
"Na medida em que as economias se desenvolvem e evoluem, o mesmo precisa acontecer com as estatísticas que as medem", disse Joe Grice, conselheiro-chefe econômico da ONS.
Estas atualizações metodológicas podem ser triviais ou podem mudar radicalmente a posição relativa de economias - como mostram os casos da Nigéria (que ultrapassou a África do Sul este ano) e da Itália (que passou brevemente a economia britânica nos anos 80).
No ano passado, uma mudança na forma de calcular o investimento adicionou 3,2% ao PIB americano.
O crescimento do PIB brasileiro em 2013 foi revisado hoje de 2,3% para 2,5% por causa de mudanças na forma que o IBGE calcula a produção industrial.