Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini (REUTERS/Paco Chuquiure)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2016 às 10h45.
Basileia, Suíça - Os maiores bancos centrais do mundo estão preocupados com o nível da dívida no Brasil e alertam que, em 2016, essa pode ser "a maior ameaça" ao País. A partir de hoje, 10, os xerifes das finanças internacionais se reúnem na Basileia, na Suíça, diante de um cenário de forte recessão no Brasil e de uma turbulência provocada pelo mercado de ações na China.
O encontro terá a presença do presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, e ocorre na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Avaliará pela primeira vez o impacto da alta nas taxas de juros dos Estados Unidos para a realidade financeira dos países emergentes. A previsão é de que a redução no fluxo de capital e de crédito para os países em desenvolvimento se aprofunde ainda mais.
Segundo o BIS, as empresas brasileiras foram ao exterior no primeiro semestre do ano passado tentar captar recursos e, como resultado, suas dívidas aumentaram em US$ 9,6 bilhões. Em abril, porém, a moeda americana oscilava entre R$ 2,90 e R$ 3,00. Hoje, essa mesma dívida representa um aumento significativo dos compromissos financeiros das mesmas empresas que foram captar no exterior no começo do ano.
Com o mercado doméstico em recessão e os preços internacionais de commodities em patamares baixos, o risco é de que essa dívida fique ainda maior nos próximos meses e que parte das empresas vá a falência.
Enquanto Europa e EUA adotaram por anos uma taxa de juros nula para ajudar em sua recuperação, e diante das taxas de crescimento nos mercados emergentes, os economistas apontam que empresas e governo no Brasil saíram em busca de dinheiro barato.
O que chama a atenção dos analistas no BIS é o nível do crédito em comparação ao Produto Interno Bruto (PIB). Em 1998, por exemplo, o crédito chegava a 79% do PIB, sem contar com a dívida e compromissos financeiros de bancos. Em 2002, essa taxa subiu para 121%. Mas caiu para 100% em 2006. Ao fim de julho do ano passado, estava em 142%, a maior em 20 anos. Em valores, atingiu US$ 2,6 trilhões.
O mesmo comportamento foi registrado em outros países em desenvolvimento e, segundo o BIS, essas economias hoje atingiram um nível de dívida de quase 200% de seu PIB. O que também preocupa é que, enquanto o dinheiro era barato e farto, pouco foi feito para aumentar a produtividade dessas economias. Entre 1995 e 2006, por exemplo, cada dólar emprestado produzia US$ 0,75 no PIB dos emergentes. Desde 2010, a taxa caiu para US$ 0,40.
Num estudo publicado na semana passada, o BIS chegou à conclusão de que inundar as economias com recursos e construir bolhas afetam de forma importante a produtividade da indústria, pois distorcem mercados e incentivam atividades não necessariamente sustentáveis.
Enquanto a dívida aumentou e a produtividade caiu, o BIS aponta que o Brasil registrou uma das mais fortes quedas na exposição de bancos estrangeiros entre as principais economias emergentes. Entre março e julho, US$ 5,1 bilhões deixaram o Brasil, deixando a exposição dos bancos no País em US$ 296 bilhões. Apenas a Rússia viu uma redução maior do que a brasileira.
Os economistas estimam que a fuga de crédito possa se acentuar em 2016. Isso por causa da alta na taxa de juros dos EUA, a primeira desde 2006. Em dezembro, o Federal Reserve (banco central dos EUA) deixou a taxa entre 0,25% e 0,5%. A promessa de ganhos maiores nos EUA pode retirar mais capital dos países emergentes.
Nova fase
O BIS pondera, porém, que o Brasil e diversos outros emergentes não estão nas mesmas condições de 1997 e 1998, quando foram obrigados a ser resgatados. Na semana passada, transcrições de conversas confidenciais entre Bill Clinton e Tony Blair foram publicadas oficialmente. Nelas, os dois líderes revelavam reais preocupações sobre o Brasil e a necessidade de resgatar o País em 1998.
Hoje, economistas admitem que o cenário é diferente, já que os governos acumularam reservas. Ainda assim, há preocupação. A dívida, por exemplo, impedirá que Brasil e outros emergentes continuem a usar políticas fiscais para estimular o crescimento. Em média, o déficit dos emergentes chega a 4% do PIB. Outro alerta dos BCs é de que um tombo dos emergentes pode significar uma recessão mundial. Em 1998, os Brics representavam 8% do PIB mundial. Hoje, são 25%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.