Dilma Rousseff: Financial Times defende que presidente precisa definir novo modelo de desenvolvimento (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2012 às 23h50.
São Paulo - O jornal britânico Financial Times publicou nesta terça-feira uma matéria que traça um perfil da presidente Dilma Rousseff como gestora, "preocupada com a governança" e "atenta aos detalhes". O detalhismo da presidente aparece em história contada por ela a jornalistas – inclusive a Joe Leahy, que assina a reportagem – sobre como descobriu um desvio de verbas federais. O prefeito de uma cidade, cujo nome a presidente não quis revelar, ao receber solicitação do Planalto para que enviasse fotos que comprovassem o uso do recurso público na construção de duas escolas, não hesitou.
Prontamente, mandou para Brasília conjuntos separados de fotos. Ele só não contava com a minúcia, prontamente notada por Dilma, de que um mesmo cão aparecia nas imagens que deveriam ilustrar obras distintas. O político estava embolsando parte do dinheiro – aquele referente a uma das escolas – e construía apenas a outra. "Você tem de estar preparada para tudo na vida – mas um cachorro denunciando um prefeito?", disse sem disfaçar o riso.
Novo modelo — Se a matéria traz um lado extrovertido da presidente, ela não deixa de lado seu caráter técnico. O texto discorre sobre a preocupação de Dilma em informatizar por completo a estrutura do governo para que isso permita um "melhor controle" dos recursos gastos pela máquina pública. Quanto às medidas econômicas adotadas pela presidente, o jornal fala que ela "deu início a um processo", mas que as reformas ainda estão longe de ser suficientes. O texto indica que, daqui para frente, o desafio de Dilma é criar um novo modelo de desenvolvimento.
A matéria relata que, na última década, o Brasil vinha crescendo ao acompanhar o movimento da economia mundial – principalmente à forte evolução dos preços das commodities. Concomitantemente, o governo federal foi feliz ao promover a promoção de 30 milhões a 40 milhões de pessoa da condição de pobreza para a nova classe média. Hoje, no entanto, com o cenário externo não tão positivo e com um mercado interno mais amadurecido, a presidente terá de descobrir uma nova forma de fazer o país crescer sem gerar inflação.
O FT sinaliza que o Brasil não consegue mais crescer a um ritmo de 4% ao ano sem gerar inflação devido à situação de crise global e ao patamar de formalização do mercado de trabalho, que o país atingiu recentemente. O veículo aborda, por outro lado, de forma bastante positiva as recentes desonerações fiscais feitas pela presidente e a preocupação de seu governo em diminuir os custos com a mão de obra. Elogia também os pacotes de privatização e modernização de aeroportos, rodovias e portos, que também ajudar a reduzir o custo Brasil.
Mesma tecla – Por outro lado, a reportagem mostra que a presidente vem batendo numa mesma tecla: a crítica às políticas adotadas por países desenvolvidos, as quais classifica de "protecionistas". A presidente tem dito repetidamente que as medidas de estímulo monetário de alguns estados nacionais vão prejudicar a economia brasileira, principalmente porque tornam o real uma moeda relativamente mais forte ante as divisas das nações ricas.
Com uma situação cambial favorável, o Brasil, na visão de Dilma, candidata-se a receber milhões de produtos que outros mercados não conseguem mais absorver, o que ofereceria risco à indústria. Diante disso, destaca a matéria, a presidente não esconde que sua intenção é tomar quantas medidas forem necessárias para "proteger" o mercado doméstico. As críticas de Dilma aparecem em um momento em que o Brasil vem sendo acusado também de protecionista, graças, sobretudo, à taxação de produtos importados.
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