Dilma em reunião: presidente da Anfavea disse que restrições às vendas para Argentina tiveram grande impacto sobre setor: “nós perdemos no primeiro trimestre 32% das exportações previstas" (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2014 às 14h30.
Brasília - Após mais de duas horas de reunião com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, e representantes das 29 empresas associadas à entidade, a presidente Dilma Rousseff determinou que o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli, conversem rapidamente com o governo argentino para destravar as exportações para o parceiro do Mercosul.
Ao sair da reunião, Moan disse que Borges e Cafarelli disseram que estarão na Argentina já na próxima semana reiniciando a negociação. “A questão com o governo argentino foi uma restrição a importações de produtos do Brasil [no fim de 2013] e no dia 28 de março foi assinado um memorando de entendimento entre os dois governos determinando o fluxo de comércio. Só que para ser funcional necessita ainda de um ajuste na linha de financiamento da exportação brasileira para a Argentina”, disse.
O presidente da Anfavea disse que as restrições às vendas para a Argentina tiveram grande impacto sobre o setor. “Nós perdemos no primeiro trimestre 32% das exportações previstas. Então é um prejuízo bastante pesado”, disse Moan, explicando que, como as exportações representam cerca de 20% das vendas, o impacto global foi aproximadamente 7%. Nesta semana, os representantes já haviam discutido o assunto com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em São Paulo.
Na reunião com a presidente, todos os representantes das empresas associadas falaram sobre a conjuntura do setor automotivo, que inclui automóveis comerciais leves, caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e máquinas rodoviárias. “A presidente demonstrou grande interesse em conhecer em profundidade o nosso setor: ela pediu que a questão das exportações [fosse trabalhada em conjunto, tanto pelo Ministério da Fazenda quanto pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior]".
No mercado interno, Moan relatou que o setor automotivo sofre os impactos do aumento de custos do aço, da logística e da energia elétrica. “Mostramos claramente a preocupação nossa com aumento de custos generalizado”, disse. Segundo ele, o aumento de custos não deve ser repassado ao consumidor, mas diminui a produtividade do setor.
“Hoje eu diria que o setor automotivo brasileiro é o mais competitivo do mundo. Nós temos 62 marcas atuando no mercado, oferecendo ao consumidor brasileiro mais de 2.500 versões e modelos de autoveículos e, com isso, não há espaço para aumento de preço. O que estamos dizendo claramente é que esse aumento de custo, de certa maneira, dificulta e traz a nossa produtividade a um nível muito baixo”, disse Moan.
No encontro, também foram apresentados à presidente dados da perda de mercado do país na área de máquinas agrícolas e caminhões. Essa perda, segundo ele, foi gerada pelo atraso da publicação das regras do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES. “O BNDES paralisou as operações até o dia 27 de janeiro e, até o final de março, houve um acúmulo de processos, dificultando a entrada de novos pedidos de financiamento. Há dez dias foi lançado o BNDES simplificado, o que reduz bastante essa burocracia que nós tínhamos e já estamos com reflexos [positivos] nas vendas”.
O presidente da Anfavea disse que o aumento do IPI não foi assunto na reunião: o tópico foi citado apenas como mais um item no aumento do custo da produção. Segundo ele, a reunião não foi destinada a cobrar o governo: o objetivo foi apresentar a “situação real” do setor e preocupações de médio e longo prazos. A possibilidade de demissões em massa também não foi mencionada por nenhum dos representantes.
Moan disse que as empresas automobilísticas estão em processo de ajuste dos estoques. Para superar as dificuldades, as montadoras usam os mecanismos para preservar empregos. “Algumas [empresas] associadas praticaram PDV [Programa de Demissão Voluntária], outras deram licença remunerada: todas têm a visão clara de que o investimento em cada trabalhador do setor automotivo é extremamente alto. Nosso pessoal qualificado é um grande investimento que fizemos e, tanto quanto possível, vamos preservá-lo".