O ministro da Fazenda, Joaquim Levy: “Levy é muito importante, e ele se mantém firme”, disse Dilma (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2015 às 17h57.
O ministro da Fazenda Joaquim Levy passou sete horas seguidas na terça-feira passada tentando convencer os senadores brasileiros de que a austeridade é a única chance que o país tem para superar a insolvência e evitar que sua classificação de crédito soberano caia em território junk.
“O custo de perder o grau de investimento será altíssimo”, disse Levy à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Então, chega de tarifas subsidiadas para os serviços públicos, gasolina abaixo do preço, empréstimos em condições favoráveis para determinadas empresas, isenção fiscal ou “pedaladas” impositivas – adiar as contas deste mês até o mês seguinte – para embelezar os livros do governo, acrescentou Levy, desviando ataques verbais com bom humor e gráficos dramáticos no PowerPoint.
Um slide eloquente mostrou como o investimento estrangeiro aumentou depois que o país atingiu o grau de investimento em 2008 e 2009, indicando que também poderia despencar caso o Brasil perca seu prestígio.
Parece que os investidores ficaram contentes. O real brasileiro teve um rali, e o abatido mercado acionário de São Paulo subiu na quarta-feira, conduzido pela Petrobras, a petroleira maltratada por um escândalo.
No mesmo dia, a Petrobras assinou um contrato de financiamento de US$ 3,5 bilhões com a China.
Mas os argumentos de Levy não influenciaram a todos. Uma pesquisa divulgada na quarta-feira mostrou que o aumento dos impostos e das taxas de juros – ambos fundamentais para o plano de Levy – agora estão no topo das preocupações nacionais, acima da decadência da educação, da saúde e da segurança pública.
Ele também sabe que precisa passar medidas espartanas por uma legislatura mais acostumada a Mâmon e especialista na arte de tomar o governo como refém.
Uma amostra do problema que está por vir foi a recente decisão da Câmara dos Deputados de flexibilizar as finanças estatais através de melhores condições para taxas de empréstimos e condições de pagamento mais fáceis.
Levy conseguiu adiar a votação no Senado, mas não eliminar o projeto de lei, que custará aos contribuintes R$ 3 bilhões (mais de US$ 954 milhões) neste ano.
A novidade é que a presidente Dilma Rousseff finalmente parece estar convencida de que sua sorte está atrelada à de Levy, que se tornou o novo superministro do Brasil. Desde a ditadura militar um economista não tinha tanto prestígio em Brasília.
“Levy se tornou o ministro-fusível”, disse-me Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda. “Se ele apagar, o país fica no escuro”.
Essa é uma disposição estranha. Levy estava na quinta série quando a companheira Vanda – um dos codinomes de Dilma – foi pega planejando assaltos e transportando armas para a revolução.
Ela sobreviveu aos calabouços da ditadura e se tornou uma tecnocrata de carreira, com uma mão de ferro para o microgerenciamento e uma quedinha por polissílabos que só um leninista-marxista poderia amar.
Levy estudou engenharia naval, depois economia, e fez o doutorado na Universidade de Chicago, o bastião da ortodoxia de livre mercado que foi o símbolo de tudo o que a esquerda latina abominava.
Eles se enfrentaram publicamente quando trabalhavam juntos para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tinha contratado Levy para manter os livros do Brasil em ordem e assegurar aos credores de que o líder do Partido dos Trabalhadores não era Fidel Castro de terno.
Quando Levy, em 2005, defendeu um plano para cortar os gastos a fim de eliminar o déficit público, Dilma, que era ministra-chefe da Casa Civil, desqualificou o plano como “rudimentar”.
Ela concorreu à reeleição no ano passado com uma plataforma abertamente anticapitalista, advertindo que uma vitória de alguém como Levy tiraria a comida da mesa dos brasileiros.
Agora, Dilma e Levy são os mais novos melhores amigos do Brasil. “Levy é muito importante, e ele se mantém firme”, disse ela em entrevista à Bloomberg News na semana passada.
Resta saber se esse amor vai durar. Como o nível de aprovação dela está em mínimos recordes e os brasileiros estão enfrentando recessão, estagflação e redução de trabalhos, Dilma está dessangrando capital político.
E, embora a maior parte do ajuste fiscal possa ser implementada pelo poder executivo, os legisladores brasileiros – e vários dos gabinete de 39 ministros de Dilma – são mestres em inventar novas formas de atacar os cofres públicos.
A melhor novidade é que o capitalista e a outrora guerrilheira estão seguindo o planejado.
Na entrevista à Bloomberg News, Dilma apoiou “grandes” cortes orçamentários. “Eu farei tudo para atingir” as metas fiscais de Levy, prometeu ela.
Milton Friedman não poderia ter dito isso melhor.