Dilma Rousseff: a candidata para a reeleição está lutando para desacelerar a inflação (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2014 às 12h55.
Brasília - A administração da presidente Dilma Rousseff deveria considerar a possibilidade de implementar medidas para evitar a fuga de capital caso ela seja eleita para um segundo mandato, disse Rui Falcão, coordenador da campanha dela, em entrevista.
“É preciso conter o investimento meramente especulativo e isso se faz com o controle apropriado do capital”, disse ontem Falcão, que também é presidente do PT.
Dilma, candidata para a reeleição em outubro, está lutando para desacelerar a inflação, que está acima da meta e é atiçada por um real mais fraco.
No ano passado, o real se desvalorizou em relação ao dólar dos EUA ao segundo maior ritmo entre 16 moedas importantes, em meio às preocupações de que a redução de estímulo monetário nos países mais ricos provocasse uma fuga de capitais do Brasil para os EUA e a Europa.
O real caiu 8,8 por cento nos últimos 12 meses e o índice Ibovespa da Bolsa de Valores de São Paulo declinou 1 por cento. Os preços ao consumidor subiram 6,28 por cento em abril em relação ao ano anterior, excedendo a meta oficial de 4,5 por cento pelo 44º mês consecutivo.
A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda não respondeu imediatamente a um e-mail e a uma ligação telefônica realizada ontem, depois do horário normal de trabalho, em busca de comentários sobre o controle de capitais.
“Esse tipo de discurso vindo de Rui Falcão deixa todo mundo um pouco nervoso”, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, ontem por telefone.
“É provável que haja alguma agitação, porque alguns clientes me ligaram para saber se eles realmente vão fazer controles de capital”.
‘Medidas extremas’
Perfeito disse que não espera que Dilma recorra a “medidas extremas” como os controles de capital e acredita que Falcão não tem influência sobre a administração.
No ano passado, o governo de Dilma aliviou o controle de capitais que tinha implementado para limitar os influxos de dólares que levaram o real à maior alta em 12 anos em julho de 2011.
O governo cortou uma taxa sobre o investimento estrangeiro em renda fixa em junho do ano passado e, dois meses antes, eliminou as taxas sobre empréstimos para compra, produção e arrendamento de bens de capital.
A inflação mais acelerada está minando a confiança do consumidor, que caiu ao nível mais baixo desde 2009, de acordo com dados publicados em abril pela Fundação Getúlio Vargas.
Analistas consultados semanalmente pelo Banco Central estimam que os aumentos nos preços aos consumidores vão acelerar para 6,39 por cento neste ano, enquanto o crescimento econômico será de 1,69 por cento, frente a 2,3 por cento em 2013.
O conselho do Banco Central aumentou a taxa básica de juros em nove reuniões consecutivas para combater a inflação, o que marca o período mais longo de ajuste monetário entre as principais economias do mundo no ano passado.
‘Autonomia formal’
As autoridades eleitas, mais do que o diretor nomeado para o Banco Central, deveriam ter a última palavra na definição das políticas monetárias, disse ontem Falcão.
“A economia –e a questão monetária é parte do conjunto da economia– tem que ser dirigida por quem tem voto”, disse ele, na sede do PT. “Sou contra a autonomia formal do BC”.
Os competidores de Dilma para as eleições em outubro, o senador Aécio Neves e o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, defendem a independência oficial do Banco Central e uma menor participação do Estado na economia.
Apoio a Dilma
Trinta e sete por cento dos brasileiros disseram que votariam em Dilma, frente a 20 por cento que votariam em Aécio Neves e 11 por cento que elegeriam Eduardo Campos, de acordo com uma pesquisa do Datafolha publicada em 9 de maio. A pesquisa teve uma margem de erro de 2 pontos porcentuais.
A campanha de Dilma não precisa de um diretor econômico porque a política econômica do governo dela já está bem definida, disse Falcão.
Ele disse que os investimentos em infraestrutura, saúde e educação começarão a dar frutos durante um possível segundo mandato, criando as condições para o seguinte candidato do PT.
“Mantivemos o que é essencial para nós: crescimento econômico sem risco de desemprego, redução da renda e do salário sem elevar a inflação”, disse Falcão.
“Defendemos a valorização do investimento produtivo no país, fazendo um controle de capitais que não signifique impossibilidade de obtenção do lucro nem tampouco do retorno do investimento”.
As prioridades do PT são reeleger Dilma para que Luiz Inácio Lula da Silva possa voltar como candidato do partido em 2018, disse Falcão.
Ele disse que o ex-presidente de 68 anos, que em 2 de maio disse que faria campanha para Dilma nesta eleição, deu sinais contraditórios a respeito do interesse em se candidatar a presidente outra vez.
“Reeleger Dilma também significa possibilitar o retorno de Lula em 2018”, disse Falcão. “Em suas declarações, na sua maneira de dizer, ele falou que se me incomodarem muito eu vou voltar”.