Carlos da Costa: secretário especial da Sepec, falou com exclusividade à EXAME, por telefone, sobre o comitê de interlocução com o setor privado (Tânia Rego/Agência Brasil)
Clara Cerioni
Publicado em 15 de abril de 2020 às 16h35.
Última atualização em 15 de abril de 2020 às 22h39.
Em meados de fevereiro, quando começava a ficar claro que o coronavírus teria impacto no setor produtivo, o Ministério da Economia formou um grupo de 35 técnicos para receber e analisar propostas encaminhadas pela iniciativa privada. O papel do comitê é estudar as sugestões e transformar as mais pertinentes em ações estratégicas.
É desse comitê que saem medidas como o adiamento da entrega do imposto de renda e do pagamento de tributos, além da formulação de novas linhas de crédito e a redução de impostos para a importação de insumos hospitalares. O grupo de trabalho é coordenado por Diogo Mac Cord, secretário de infraestrutura do Ministério da Economia, designado especialmente para a nova missão.
A equipe, abrigada na Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec), analisa dezenas de propostas todos os dias. A maioria vem do setor industrial e 28% se referem a questões tributárias. Cerca de 65 propostas já foram implementadas.
Carlos da Costa, secretário especial da Sepec, falou com exclusividade à EXAME, por telefone, sobre o comitê de interlocução com o setor privado e o plano de resgate das empresas. Veja, a seguir, os principais trechos da conversa.
O grupo que recebe as propostas da iniciativa privada já cumpriu várias tarefas, como a redução de impostos de produtos críticos ao combate da pandemia e linhas de crédito emergenciais. O que vem pela frente?
Começamos a planejar a retomada econômica essa semana. Nosso foco nesse momento é entender o que está acontecendo no Brasil e no mundo, do ponto de vista econômico e do fluxo de mercadorias, em função das mudanças causadas pela pandemia. Estão havendo mudanças importantes de hábito de consumo e deverá haver também modificações de eixos estratégicos de comércio internacional.
Há oportunidades para o Brasil nesse novo cenário mundial?
Sem dúvida. Os países ocidentais estão buscando uma maior diversificação da pauta de produção e importação. Já descobriram que não dá para depender de um só país para produtos essenciais como respiradores, leitos hospitalares, uma série de insumos da indústria química e de outros setores. Hoje, tudo isso vem basicamente da China. Aí, a China para e o que acontece? Os países ficam sem esses produtos. Já está havendo uma discussão mundial nesse sentido.
O Ministério da Economia está mapeando os insumos que podem ter maior demanda global e atrair compradores internacionais?
Sim, começamos a fazer isso. Estamos olhando não só para o setor de insumos e equipamentos hospitalares, mas também para o segmento de fármacos, bens de consumo e produtos químicos, para dar alguns exemplos. Pode ser uma oportunidade de aumentar a nossa competitividade. As empresas estão demonstrando uma grande capacidade de inovação, flexibilidade e agilidade.
Algumas companhias começaram a fabricar espessantes, que estavam em falta no mercado, para produzir álcool gel. Várias outras empresas estão conseguindo lançar novos produtos essenciais nessa crise, e de forma muito rápida. Temos que aproveitar essa capacidade.
Para a indústria se fortalecer, será preciso criar medidas de estímulo, não? O que o Ministério da Economia está preparando?
Sim. Precisamos reduzir a burocracia e facilitar a vida do empresário. Já estão sendo estudadas novas medidas nesse sentido. Também é importante adaptar a legislação trabalhista para os novos tempos. Muitas pessoas estão trabalhando em homeoffice, com bons resultados. Isso precisa ser incorporado, assim como um horário de trabalho flexível.
As companhias vão necessitar de mais crédito, inclusive para recompor o capital de giro?
Já temos isso em mente. Devemos estudar a criação de novas linhas de crédito. Ainda é cedo para adiantar alguma coisa. Mas os trabalhos estão caminhando rapidamente. O grupo de interface com a iniciativa privada já está recebendo sugestões de medidas a serem adotadas no momento pós-pandemia.
Há propostas bem interessantes, que estamos analisando. Esse diálogo com a iniciativa privada está sendo muito produtivo. Teremos novidades em breve.