Jornada Nacional de Luta por Emprego organizada pela CUT em 1998: os tempos mudaram e o movimento sindical precisa encontrar novas bandeiras (Ricardo Stuckert/Veja)
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2011 às 06h24.
São Paulo - No próximo domingo (1º), o Brasil vai comemorar o Dia do Trabalho com a menor taxa de desemprego de sua história, segundo o IBGE. A luta por mais empregos, principal bandeira dos movimentos sindicais nas últimas décadas, já não tem a mesma força, o que faz as próprias lideranças trabalhistas reconhecerem a hora de uma reinvenção. "O Primeiro de Maio se esvaziou, é verdade. Os trabalhadores se acomodaram. Precisamos criar uma nova identidade para nosso discurso", diz o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah.
Como o próprio Patah lembra, o movimento trabalhista já foi às ruas pela redemocratização do país durante a ditadura. Também fez muito barulho nos anos 1980 e 1990 por mais vagas, melhores condições de trabalho, e reajustes compatíveis com a inflação, que castigou o país neste período. "Agora, parece que houve um acomodamento. A juventude agora vai muito às festas de 1º de maio por causa dos shows. Mas nós não podemos perder o foco, nem deixar de manifestar nossas reivindicações."
Esta realidade não é sinal de um esvaziamento dos movimentos de trabalhadores. Pelo contrário, sobram reivindicações. O presidente da UGT diz que, atualmente, questões como a da melhora na qualificação dos profissionais e o fim do fator previdenciário para o cálculo das aposentadorias estão entre as principais pautas dos sindicatos.
Mas a maior candidata a bandeira máxima do movimento sindical é a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Segundo Sadi del Rosso, professor de sociologia do trabalho da Universidade de Brasília (UnB), o assunto tem tudo para voltar a "empolgar o movimento trabalhista, uma vez que a luta contra o desemprego hoje já é quase toda resolvida pelo sistema."
Em fevereiro de 2007, o deputado federal Marco Maia (PT) apresentou um projeto de lei sobre o tema. Segundo o professor dal Rosso, o momento para aprovar a proposta, que ainda tramita no Congresso, não poderia ser melhor. Para ele, a atual fase de crescimento da economia brasileira permite que o governo reduza a jornada de trabalho para 40 horas semanais sem que os salários sofram alterações.
"Nos momentos de forte desenvolvimento econômico, as empresas têm bons resultados e podem pagar melhores salários, mesmo com menos horas de trabalho. Uma jornada menor sem perdas salariais significaria uma maciça distribuição de renda em todos os setores, que é justamente o que o Brasil precisa."
Educação
A capacitação dos trabalhadores também entra na lista de reivindicações que dão a nova cara do movimento sindical no Brasil. Para Ricardo Patah, da UGT, esta é, inclusive, a razão principal pela qual lutar.
"Temos que insistir neste assunto em todas as suas esferas, não apenas na acadêmica. Os profissionais precisam ser mais bem capacitados para o mercado. Houve mudanças estruturais na sociedade e tanto os trabalhadores quanto o movimento sindical têm que acompanhar", diz.
O presidente da UGT afirma que a entidade tem feito esforços para atualizar seu discurso, principalmente na tentativa de atrair os trabalhadores jovens. "Além de eles (os jovens) precisarem refletir sobre a importância do movimento sindical, também precisam ver assuntos de seu interesse na pauta. Por isso nosso empenho em mudar o foco, trazendo estas discussões sobre educação, sustentabilidade, e outros assuntos pertinentes à vida deles. Temos que encantá-los novamente", afirma.