Economia

Desigualdade no Brasil pode não estar caindo, diz estudo

Primeiro trabalho que olha desigualdade com base no imposto de renda conclui que concentração de renda no Brasil é maior do que se imaginava e não está caindo

Trabalhador na favela da Rocinha: desigualdade pode não estar em queda (Dado Galdieri/Bloomberg)

Trabalhador na favela da Rocinha: desigualdade pode não estar em queda (Dado Galdieri/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 23 de setembro de 2014 às 12h14.

São Paulo - A diferença entre ricos e pobres no Brasil pode ser maior do que indicam as estatísticas oficiais e talvez não esteja caindo, segundo um estudo da UnB (Universidade de Brasília) lançado em agosto.

O trabalho é assinado por Fabio Avila Castro, Marcelo Medeiros e Pedro H. G. F. Souza, estes dois últimos também pesquisadores do Ipea.

A análise do trio é a primeira que olha a distribuição de renda no Brasil a partir de dados do Imposto de Renda, na linha do que fez Thomas Pikkety em seu recente bestseller "O Capital no Século XXI".

A vantagem desse método é que ele capta melhor fatores como rendimentos financeiros, mais comuns entre os mais ricos e que tendem a ser subnotificados em declarações domiciliares.

O que o trio descobriu é que no período analisado (2006 a 2012), a renda apropriada pelo 1% mais rico da população ficou estável em cerca de 25% do total nacional. Só os 0,1% mais ricos ficaram com 11%. Já a renda total dos 5% mais ricos, aqueles que ganham mais de R$ 57,6 mil por ano, subiu de 40% em 2006 para 44% em 2012.

Todos os dados indicam uma concentração de renda maior que aquela identificada pelos levantamentos oficiais com questionário das famílias, como a PNAD e o Censo.

  0,1% mais rico 1% mais rico 5% mais rico
Imposto de Renda 11% 25% 44%
Censo 7% 19% 40%
PNAD 4% 14% 35%

"É provável que a queda da desigualdade nesse período, identificada nas pesquisas domiciliares, não tenha ocorrido ou tenha sido muito inferior ao que é comumente medido. As pesquisas domiciliares, tudo indica, identificam melhoras na base da distribuição, mas a desigualdade total depende também do que ocorre no topo", diz o estudo.

Ainda assim, nem tudo entrou no cálculo do estudo - como a evasão fiscal e os lucros registrado como de pessoa jurídica mas que fluem diretamente para um ou mais indivíduos. 

Isso significa que a renda captada pela parcela mais rica da população não só resiste a mudanças como pode continuar estar sendo subestimada: "A concentração de renda no topo é impressionante. Não importa como a medida seja construída, a desigualdade que ela expressa é extremamente alta e não dá sinais claros de mudança.", diz o texto.

Cenário

Não é a primeira vez que alguém questiona até que ponto as pesquisas domiciliares são capazes de captar a real distribuição de renda no Brasil.

O assunto já foi martelado várias vezes por Clóvis Rossi, colunista da Folha, o que gerou uma resposta de Marcelo Neri, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O Ipea está desenvolvendo no momento uma pesquisa própria sobre a desigualdade no país com base no imposto de renda.

Na semana passada, os números da PNAD foram divulgados mostrando que o processo de queda da desigualdade havia sido interrompido no Brasil em 2013, com ligeiro aumento. Um dia depois, os dados foram corrigidos mostrando leve queda.

Acompanhe tudo sobre:Distribuição de rendaEnsino superiorImposto de Renda 2020ImpostosLeãoUnB

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo